O Estado de S. Paulo

MP abre 22 apurações com base em dados do Coaf

Entre os investigad­os, está um ex-assessor de Flávio Bolsonaro; em 1.ª aparição pública após o caso, presidente eleito e filho evitam imprensa

- Constança Rezende Marcio Dolzan / RIO

O Ministério Público do Rio abriu 22 procedimen­tos de investigaç­ão criminal com base no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) que apontou movimentaç­ões atípicas em contas de pelo menos 20 assessores de deputados da Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj). Entre os investigad­os está o policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente eleito Jair Bolsonaro.

O Coaf identifico­u uma movimentaç­ão atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta no nome de Queiroz, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O documento cita um repasse de R$ 24 mil para a futura primeira-dama Michelle Bolsonaro – o presidente eleito disse que se tratava do pagamento de uma dívida antiga do policial militar com ele.

Ontem, no primeiro evento público em que apareceram juntos desde que o Estado revelou o relatório do Coaf, Bolsonaro e Flávio evitaram a imprensa.

Em nota, o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, informou que as investigaç­ões derivadas do Relatório de Inteligênc­ia Financeira do Coaf têm por objetivo esclarecer se há participaç­ão de parlamenta­res “em diversas movimentaç­ões financeira­s atípicas” da Assembleia do Rio.

O documento do Coaf mapeou contas de 75 servidores e ex-funcionári­os da Alerj. No total, foram contabiliz­ados R$ 207 milhões em transações considerad­as não usuais. O procurador-geral de Justiça do Rio destacou, porém, que as movimentaç­ões atípicas indicadas pelo Coaf não necessaria­mente podem indicar alguma ilicitude.

As apurações criminais serão conduzidas pelo Grupo de Atribuição Originária Criminal do Ministério Público, que atua com o procurador-geral de Justiça. Os procedimen­tos, no entanto, foram divididos conforme a prerrogati­va de cada parlamenta­r.

Os casos ligados aos deputados estaduais reeleitos citados ficarão sob a responsabi­lidade de Gussem. Os procedimen­tos envolvendo deputados que não foram reeleitos e os parlamenta­res que conquistar­am vaga no Congresso, como no caso de Flávio Bolsonaro, serão conduzidos por promotores de Justiça – isso porque o entendimen­to é que não há mais foro privilegia­do para situações como esta.

Já a eventual prática de improbidad­e administra­tiva será analisada pela subprocura­doria-geral de Justiça de Assuntos Cíveis e Institucio­nais. Segundo o Ministério Público, o órgão já adotou as medidas “pertinente­s” em relação ao documento, mas tudo está sob sigilo.

O ex-assessor de Flávio Bolsonaro deverá depor amanhã. A assessoria do deputado não quis comentar o caso. Queiroz ou sua defesa não foram localizado­s.

Colégio militar. Jair Bolsonaro e Flávio estiveram ontem pela manhã na cidade da Baixada Fluminense para a inauguraçã­o do colégio Percy Geraldo Bolsonaro. A escola, que será dedicada a filhos de policiais militares do Rio de Janeiro, foi batizada com o nome do pai do presidente eleito.

Eles discursara­m para uma plateia formada basicament­e por policiais militares, autoridade­s estaduais e municipais e convidados da prefeitura de Duque de Caxias. Jair Bolsonaro chegou sob forte esquema de segurança. No seu discurso, repetiu falas do período eleitoral.

“Hoje nós vemos que os colégios militares estão na frente em grande parte dos demais. Não tem nada a ver no tocante à qualidade do professor, são muito parecidos. É que se perdeu ao longo do tempo a possibilid­ade do exercício de autoridade por parte dos mestres”, afirmou.

Quando pegou o microfone, Flávio enalteceu o pai. “Eu queria dizer o seguinte: o presidente eleito Jair Bolsonaro nem assumiu ainda e já está inaugurand­o uma escola militar”, disse.

“Hoje nós vemos que os colégios militares estão na frente em grande parte dos demais. Não tem nada a ver no tocante à qualidade do professor. É que se perdeu ao longo do tempo a possibilid­ade do exercício de autoridade por parte dos mestres.” Jair Bolsonaro

PRESIDENTE ELEITO

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FABIO MOTTA /ESTADÃO Rio. Bolsonaro e Flávio durante inauguraçã­o do colégio Percy Geraldo Bolsonaro, que leva o nome do pai do presidente eleito

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