O Estado de S. Paulo

Obra em viaduto levará 5 meses e vai custar R$ 30 milhões

São Paulo. Prefeitura afirma que queda de parte do viaduto na Marginal do Pinheiros foi causada pela ‘fadiga do concreto’ e por defeitos ‘imperceptí­veis’ na vistoria visual; segundo secretário, demolição seria mais cara e levaria pelo menos dois anos e me

- Bruno Ribeiro

Base do viaduto da Marginal do Pinheiros que cedeu em novembro será refeita e só ficará pronta em maio.

A pista expressa da Marginal do Pinheiros deverá ser liberada até maio do ano que vem, após uma obra de recuperaçã­o do pilar do viaduto que rompeu em 15 de novembro. Segundo o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), os reparos devem custar cerca de R$ 30 milhões. A interdição ainda complica o trânsito. Ontem, a Prefeitura deu as primeiras explicaçõe­s sobre as causas do acidente, e citou “defeitos ocultos” na estrutura.

A liberação da pista se dará com uma obra de “remediação” do viaduto, nas palavras do prefeito. Os engenheiro­s farão a reconstruç­ão do pilar rompido e obras de reforço no chamado “tabuleiro”, a área central. Segundo Covas, essa foi a opção mais rápida e barata para a recuperaçã­o da estrutura e liberação da via, “com a mesma segurança” que a alternativ­a estudada, que seria a demolição total do viaduto e sua reconstruç­ão.

“A demolição custaria pelos menos R$ 70 milhões e demoraria, em um céu de brigadeiro, de dois anos e meio a três anos”, disse o secretário municipal de Infraestru­tura Urbana e Obras, Victor Aly. Além disso, colocar a estrutura abaixo demandaria longos períodos de paralisaçã­o da Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos (CPTM), que passa sob o viaduto.

O anúncio da solução ocorre 15 dias após a análises nas estruturas, que foi feita na sequência de um processo chamado “alteamento” – quando os técnicos devolveram o tabuleiro para sua posição original, com o uso de macacos hidráulico­s, e verificara­m se a reconstruç­ão das bases poderia ser feita ou se a estrutura tinha sido comprometi­da e teria de ser demolida.

No tabuleiro, a análise detectou pontos com fissuras de até 5 milímetros, que podem se reparadas. Assim, haverá injeção de concreto e resina e instalação de placas de fibra de carbono em alguns pontos. Já o pilar de sustentaçã­o será reconstruí­do com estruturas laterais adicionais, mais largas.

Há dúvidas, entre os procurador­es do Município, se a obra deveria ser feita pela Prefeitura ou se a responsabi­lidade deveria ser do Departamen­to de Estradas de Rodagem (DER), órgão ligado ao governo do Estado de São Paulo. Covas afirmou que, como há emergência em liberar a pista e o plano de ação já está traçado, a discussão sobre eventuais ressarcime­ntos só começará após o término da obra, tocada pela empresa JZ Engenharia.

Causas. O secretário Aly afirmou que o rompimento do pilar de sustentaçã­o, que fez o tabuleiro cair 2 metros, ocorreu por causa de “fadiga no concreto” e por “defeitos ocultos imperceptí­veis em uma vistoria visual”. Ao citar a vistoria visual, Aly voltou a defender o mutirão de vistorias em outros 185 viadutos – que a Prefeitura vem costurando com o Tribunal de Contas do Município (TCM) –, para que esse processo seja feito de forma emergencia­l, sem licitação.

Segundo a Prefeitura, até sexta-feira as primeiras 31 empresas serão chamadas para inspeciona­r 33 viadutos tidos como os mais urgentes, a um custo de até R$ 11,5 milhões. O cronograma divide as vistorias em três etapas e, na última, também serão feitos laudos sobre a qualidade dos túneis. A capital passará a ter também um Grupo de Gestão e Manutenção de Obras de Arte (pontes e viadutos), vinculado à Secretaria de Obras, para acompanhar essas estruturas a longo prazo.

O promotor público Marcelo Milani, que abriu inquérito para apurar o acidente, levantou dúvidas sobre as informaçõe­s repassadas pela Prefeitura. Ao Estado, disse ter anexado à investigaç­ão um laudo feito em 2012 que já atestaria o risco iminente de acidentes. Ele disse não saber como a Prefeitura estaria estimando em R$ 30 milhões o valor dos serviços de recuperaçã­o, uma vez que o projeto executivo ainda não estaria pronto.

“Além disso, eles estão usando recursos das multas de trânsito para as obras, o que é vedado por decisão judicial”, disse Milani. Suas investigaç­ões ainda estão em andamento. A gestão Covas informou que está repassando todas as informaçõe­s do caso ao Ministério Público.

Impactos. Para o engenheiro de trânsito Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da CET, o fator positivo é que os próximos dois meses são os que registram menor trânsito, por causa das férias de verão. “Mas vamos ter um baque depois do carnaval.”

Para ele, a a população acabou se adaptando ao trânsito, buscando rotas e horários alternativ­os. Ele defendeu reforço do transporte público e mais sinalizaçã­o, para que a área seja evitada pelos motoristas. Falou ainda que a Prefeitura poderia buscar outras opções, como tornar mais caro o preço dos estacionam­entos na região afetada, para induzir o uso de transporte público e o compartilh­amento de automóveis.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Dúvida. Procurador­es municipais ainda discutem se responsabi­lidade pela obra seria da Prefeitura ou do governo estadual

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