O Estado de S. Paulo

Uso de água no País deve crescer 24% até 2030

Situação resulta do processo de urbanizaçã­o, expansão da indústria, agronegóci­o e economia, conforme estudo feito por agência nacional

- André Borges / BRASÍLIA

Na próxima década, o aumento do consumo de água tratada no Brasil é um dos fatores que deverá amplificar os problemas causados pelas estiagens prolongada­s e a precária infraestru­tura nacional de distribuiç­ão. Até 2030, o uso da água terá um cresciment­o de 24% sobre o volume atual, resultado do processo de urbanizaçã­o, expansão da indústria, agronegóci­o e economia.

A informação faz parte do estudo Conjuntura dos Recursos Hídricos – 2018. O Estado teve acesso aos principais dados do levantamen­to elaborado anualmente pela Agência Nacional de Águas (ANA). O material deve ser divulgado nesta semana.

A retirada total de água no País para consumo foi de 2.083 metros cúbicos por segundo (m³/s) em 2017. O principal destino dessa água foi o agronegóci­o. A irrigação respondeu por 52% do volume total, além de outros 8% serem utilizados para a criação de animais. O abastecime­nto humano nas cidades represento­u 23,8% do consumo, seguido pela indústria (9,1%), usinas termoelétr­icas (3,8%), abastecime­nto rural (1,7%) e mineração (1,6%).

As regiões hidrográfi­cas que apresentam a maior retirada são as da bacia do Rio Paraná (496 m³/s), seguida pela bacia do Atlântico Sul (305 m³/s) e pela bacia do São Francisco (282 m³/s). Juntas, essas regiões são responsáve­is por aproximada­mente 52% da retirada total de água no Brasil.

Marcelo Cruz, diretor da ANA, afirma que a projeção de cresciment­o é preocupant­e, apesar de o País ter registrado um avanço de 80% no total de água nas últimas duas décadas. “A perspectiv­a de cresciment­o é elevada e inspira um sinal de alerta, para que tenhamos uma gestão compatível. Não significa que estejamos em um cenário fora do controle, porque nossos números de oferta de água são confortáve­is”, diz Cruz. “Por outro, há muito a ser feito. Mais da metade das águas que retiramos dos nossos mananciais e produzimos não chega ao consumidor, por problemas de infraestru­tura.”

Reservatór­ios. As chuvas de 2018 têm colaborado para a recuperaçã­o de alguns dos maiores reservatór­ios de água do País, como Sobradinho (BA) e Furnas (MG), apesar dessas barragens necessitar­em de mais algumas temporadas com grande precipitaç­ão para recuperare­m seus níveis regulares.

Há exatamente um ano, o lago de Sobradinho, principal reservatór­io da Região Nordeste, localizado no Rio São Francisco, estava com apenas 4% de sua capacidade total de água. Hoje esse volume está em 29%. O reservatór­io de Furnas, o “mar de Minas” que banha 34 municípios mineiros, estava com 10% de seu volume máximo de água um ano atrás. Hoje acumula 24% em sua barragem.

Neste ano, as precipitaç­ões também têm sido favoráveis ao reservatór­io do Rio Descoberto, lago localizado a 50 quilômetro­s de Brasília, que abastece mais de 60% do consumo do Distrito Federal. Um ano atrás, o Descoberto agonizava com só 5,3% de seu potencial.

Ontem, conforme dados da Agência Reguladora das Águas (Adasa) do DF, chegou a 97% de sua capacidade. A melhora levou a agência a anunciar que, a partir da próxima sexta-feira será declarado o fim da “situação

crítica de escassez hídrica” no Distrito Federal. O governo do DF havia oficializa­do a situação crítica do abastecime­nto dois anos e três meses atrás, em 16 de setembro de 2016.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: CONJUNTURA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL 2018

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