O Estado de S. Paulo

Gabriel Medina é bi mundial

Brasileiro dá show nas ondas de Pipeline, no Havaí, conquista seu segundo título mundial e prova ser um dos principais atletas nacionais

- Paulo Favero

Surfista brasileiro comemora nas ondas de Pipeline, no Havaí. Ele disputou suas baterias sempre com bom desempenho, confirmou o favoritism­o e levou o bi mundial.

“Espaço reservado para o troféu do bicampeona­to mundial”. Na sala de conquistas do surfista Gabriel Medina, no Instituto que criou com seu nome em Maresias, no litoral paulista, a mensagem servia de motivação antes do embarque para o Havaí. E como uma profecia, o atleta brasileiro cumpriu à risca o que dizia o bilhete e garantiu seu mais novo troféu no surfe.

O brasileiro conquistou o bicampeona­to mundial de surfe ontem durante a disputa do Billabong Pipe Masters, no Havaí. Ele confirmou o favoritism­o ao passar suas baterias sempre com bom desempenho enquanto seus adversário­s, o brasileiro Filipe Toledo e o australian­o Julian Wilson, não tiveram como pará-lo na última edição.

“Trabalhei muito duro neste ano. Foi intenso, mas tudo valeu a pena. Não consigo encontrar palavras. Estou muito feliz. Quero agradecer aos amigos e familiares que vieram e me deram força. Sempre venho para fazer o meu melhor. Tive fé, tentei ao máximo até o final. Vi que os rivais estavam conseguind­o boas notas, mas mantive a calma, mantive a concentraç­ão e consegui novamente”, afirmou o bicampeão mundial de surfe.

Medina precisava chegar à final em Pipeline para ficar com o título. Nem precisa disputá-la. E como um mantra, repetia isso a cada entrevista após baterias vitoriosas. Foi eliminando seus rivais, um a uma, e na semifinal teve um duelo equilibrad­o com o sul-africano Jordy Smith, que começou na frente, mas tomou a virada depois que Medina pegou um lindo tubo para Backdoor, alcançando uma nota de 9,10 pontos. No final, ele somou 16,27 contra 15,83 de Smith e saiu do mar nos braços de amigos e familiares em Pipeline.

Depois, ainda encontrou forças para vencer a etapa justamente diante de Julian Wilson, seu amigo e rival. “Estou feliz da vida de conquistar isso. Ganhar o Pipe Masters é especial, é muito difícil ganhar essa etapa, mas agora consegui. Julian é um ótimo competidor e tive sorte de pegar boas ondas. Quatro anos atrás ele me bateu aqui na final, agora consegui vencer. Foi incrível”, afirmou Medina, citando a decisão do Pipe Masters de 2014, quando o brasileiro foi campeão mundial, mas perdeu na última bateria.

É o segundo título do Circuito Mundial de Surfe do garoto de Maresias. Em 2014, ele se tornou o primeiro brasileiro a ser campeão mundial na modalidade. Agora, é o primeiro bicampeão e deixa o Brasil com três troféus – Adriano de Souza ganhou o Mundial em 2015. O feito de Medina coroa o ótimo momento do surfe nacional.

Medina chegou ao Havaí na liderança do campeonato e sabia que dependia apenas de si para conquistar o título. Com grandes tubos, manobra mais bem pontuada no Pipe Masters, levantou a torcida brasileira e sua família na areia em Pipeline. Quando o título foi sacramenta­do, os fãs fizeram a festa na praia, um verdadeiro carnaval verde e amarelo.

A façanha de Medina confirma o talento do jovem de 24 anos, amigo de Neymar, que desde cedo mostrou talento e sempre foi precoce nas conquistas. Com 15 anos, foi o atleta mais novo a vencer uma etapa do Mundial. A partir daí, colecionou feitos mostrando estilo arrojado. Tanto que até o campeão mundial Joel Parkinson, da Austrália, se rendeu ao talento do brasileiro. Em entrevista para o podcast “Ain’t that swell surf radio”, considerou Medina o maior talento de todos.

“Eu sempre disse isso dele. Desde jovem, achei isso. É um dos melhores que já vi, se não é o melhor que eu já vi sobre uma prancha. Eu sou um fã do Gabriel e amo vê-lo surfar. Falo para o Mick Fanning e para todo mundo ouvir. Ele é o melhor que já vi”, disse Parko, que ganhou o título mundial em 2012.

Medina abraçou a mãe assim que saiu da água. Ela chorou. Um dos trunfos do surfista é ter desde cedo o apoio da família. Quando ainda era criança, falou para o padrasto Charles Saldanha que queria ser campeão mundial. Foi daí que surgiu a parceria que dura até hoje, com Charles atuando como técnico e principal mentor do garoto. A mãe de Gabriel, Simone, é a grande incentivad­ora e torcedora número um do filho. O irmão Felipe é grande parceiro e a irmã Sophia já segue os passos no surfe e demonstra ter talento.

E foi dessa união familiar, talento precoce e uma competitiv­idade enorme que Medina levou o surfe mundial para um outro patamar. Ao lado de John John Florence, Filipe Toledo e Italo Ferreira, é o grande nome da nova geração e tem tudo para ampliar o número de troféus.

Ao receber os troféus de campeão da temporada e do Pipe Masters, ele se emocionou e contou que assistiu a um filme sobre Andy Irons e buscou inspiração na lenda havaiana.

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TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL
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COREY WILSON/RIP CURL Festa. Gabriel Medina é carregado pela torcida de amigos e familiares na praia de Pipeline, no Havaí, após conquistar seu segundo título mundial de surfe

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