O Estado de S. Paulo

Deputada tem carro atacado por tiros de fuzil

Segurança Pública. Ex-chefe da Polícia Civil, Martha Rocha (PDT) estava com o motorista e a mãe em um veículo blindado e não foi atingida; ela relatou que no fim de 2018 recebeu ameaças de morte por parte de milicianos. Atentado e assalto são investigad­os

- Constança Rezende Roberta Jansen / RIO

Ex-chefe da Polícia Civil do Rio, a deputada estadual Martha Rocha (PDT) teve o carro atacado por tiros de fuzil na zona norte da cidade. Ela estava com a mãe e o motorista num veículo blindado e saiu ilesa. No fim de 2018, Martha foi ameaçada de morte por milicianos. A polícia investiga hipóteses de atentado e tentativa de assalto.

Ex-chefe da Polícia Civil do Rio, a deputada estadual Martha Rocha (PDT) teve o carro alvejado por tiros de fuzil na manhã de ontem na Penha, zona norte do Rio. A deputada estava com a mãe e o motorista em um veículo blindado e não ficou ferida no ataque. No fim de 2018, Martha foi ameaçada de morte por milicianos. A polícia investiga a hipótese de atentado e não descarta a possibilid­ade de uma tentativa de assalto.

O motorista da parlamenta­r, o subtenente reformado da PM Geonísio Medeiros, ficou ferido por estilhaços de bala na perna. Ele foi atendido no Hospital Getúlio Vargas e liberado em seguida. A mãe da deputada, de 88 anos, se abaixou no carro durante o ataque e não foi atingida.

Martha e o motorista haviam buscado a mãe da deputada, que mora na Penha, e seguiam para a assistir a uma missa na Tijuca. Ainda na Penha, segundo a deputada, Medeiros notou que um carro Celta de cor banca estava atrás. Dentro, ela contou ter visto um homem vestido de preto, com luvas e touca no rosto também pretas.

Segundo o relato da delegada, em certo momento, o homem colocou a metade do corpo para fora, portando um fuzil. Pouco tempo depois, passou a disparar contra o veículo, atingindo duas rodas. O Celta perseguiu o carro da delegada até a altura da Avenida Brasil. O motorista conseguiu entrar em uma das ruas próximas e dirigir até o Olaria Atlético Clube, onde buscaram socorro. Os criminosos fugiram.

O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), determinou escolta imediata para Martha, “já que ainda não sabemos se é atentado ou latrocínio”.

Em depoimento na Delegacia de Homicídios na Barra da Tijuca, na zona oeste, Martha relatou que recebeu ameaças de morte vinda de um grupo miliciano no início de novembro. Segundo a deputada, a ameaça chegou três vezes, via disque-denúncia, e foi comunicada às autoridade­s de segurança.

A mensagem, afirmou Martha, era de que o grupo pretendia atingir autoridade­s e seu nome vinha especifica­do entre os alvos “com letras garrafais”. “Na ocasião, falei pessoalmen­te com o Rivaldo Barbosa (então chefe da Polícia Civil) e com o Gilberto Ribeiro (subchefe operaciona­l) e pedi uma análise de risco, para ver se a ameaça tinha fundamento ou não”, disse.

O presidente da Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj), André Ceciliano (PT), foi quem acompanhou Martha na época. Segundo ele, o então intervento­r federal na Segurança, general Braga Netto, e o então secretário de Segurança, general Richard Nunes, também foram informados. “Nos reunimos com eles e contamos o que aconteceu. Não podemos entrar em mais detalhes sobre a ameaça por questões de segurança. Mas posso dizer que teria partido de milicianos que tramariam a morte dela.”

Escolta. Martha relatou que, depois das reuniões, Ribeiro lhe telefonou para oferecer escolta policial por um mês, mas ela recusou, afirmando que queria apenas a apuração da denúncia. “Não recebi resposta do resultado dessa investigaç­ão”, disse a deputada, que, na sequência, comprou o carro blindado que estava usando ontem. “Se houve ausência de cuidado, quem tem de explicar são eles, até porque não sei qual foi a motivação deste fato (o ataque de ontem).”

O deputada destacou que, quando era delegada titular, atuou na região de Campinho, dominada pela milícia, e trabalhou na investigaç­ão das organizaçõ­es criminosas. Martha foi a primeira mulher a chefiar a Polícia Civil do Rio, em 2011. Em 2014, foi eleita pela primeira

“A Polícia Civil inteira sabe que fui uma pessoa que enfrentou as milícias.” Martha rocha, deputada e ex-chefe da polícia civil do Rio de Janeiro

vez deputada estadual e logo assumiu a presidênci­a da Comissão de Segurança Pública.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), que também recebeu ameaças por parte da milícia em dezembro, quando cumpria mandado de deputado estadual no Rio, acusou o Estado de omissão e pediu respostas imediatas. Ao menos outros três parlamenta­res também teriam recebido ameaças. Hoje completam dez meses do assassinat­o da vereadora Marielle Franco e do motorista

Anderson Gomes, provavelme­nte por milicianos (mais informaçõe­s nesta pág.).

Em nota, a Alerj considerou o ataque “extremamen­te grave” e pediu com urgência a prisão dos responsáve­is. Também em nota, o Ministério Público do Rio disse que a ação “configura-se um ato de extrema gravidade, sobretudo por tratar-se, mais uma vez, de uma parlamenta­r, o que representa uma tentativa de intimidaçã­o e ameaça ao Estado Democrátic­o de Direito”.

 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO ?? Análise. Policiais fazem perícia no carro da parlamenta­r
FABIO MOTTA/ESTADÃO Análise. Policiais fazem perícia no carro da parlamenta­r
 ?? MARCOS DE PAULA/ESTADÃO-16/10/2013 ??
MARCOS DE PAULA/ESTADÃO-16/10/2013

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil