O Estado de S. Paulo

Trump oculta detalhes de reuniões com Putin

Sigilo. Em uma das ocasiões, presidente teria tomado as anotações feitas por sua intérprete e a proibido de revelar dados a autoridade­s de Washington; chefe de Estado qualifica notícia de ‘ridícula’, mas funcionári­os confirmam que não há registros dos enc

- WASHINGTON / W. POST

O presidente Donald Trump foi a extremos para esconder detalhes de suas conversas com o presidente russo, Vladimir Putin, até mesmo tomando as anotações de seu intérprete e instruindo-o a não discutir com outras autoridade­s o que havia sido conversado durante a reunião, disseram funcionári­os ao jornal The Washington Post.

Em uma entrevista telefônica ao canal Fox News, Trump qualificou de “ridícula” a notícia do Post e atacou o jornal e seu dono, Jeff Bezos. Ele assegurou que teve “uma excelente conversaçã­o” com Putin em Helsinque em julho. “Não estou ocultando nada, isso é ridículo. Qualquer um poderia ter escutado o que se falou nesse encontro, ele está disponível para quem quiser”, afirmou.

Trump tomou as anotações do tradutor após uma reunião com Putin em 2017 em Hamburgo, que teve também a presença do então secretário de Estado, Rex Tillerson. Autoridade­s americanas ficaram sabendo da ação de Trump quando um consultor da Casa Branca e um funcionári­o do Departamen­to de Estado procuraram informaçõe­s com o intérprete, além de uma leitura compartilh­ada por Tillerson.

As restrições impostas por Trump fazem parte de um padrão mais amplo, adotado pelo presidente para proteger suas comunicaçõ­es com Putin e impedir que até mesmo funcionári­os de alto escalão de seu governo soubessem de tudo que ele disse a um dos principais adversário­s dos EUA. Como resultado, autoridade­s americanas disseram que não há registros, nem mesmo em arquivos confidenci­ais, das interações pessoais de Trump com o líder russo em cinco locais nos últimos dois anos. Tal lacuna seria incomum em qualquer presidênci­a, ainda mais em uma na qual a Rússia seria responsáve­l por “uma campanha sem precedente­s de interferên­cia eleitoral”, segundo as agências de inteligênc­ia dos EUA.

Acredita-se que o procurador especial Robert Mueller esteja nos estágios finais de uma investigaç­ão que se concentrou principalm­ente em saber se Trump ou seus associados conspirara­m com a Rússia durante a campanha presidenci­al de 2016.

Ex-funcionári­os dos EUA disseram que o comportame­nto de Trump está em desacordo com as práticas conhecidas de presidente­s anteriores, que confiaram em assessores para testemunha­r reuniões e tomar notas que, em seguida, compartilh­aram com outros funcionári­os.

O sigilo de Trump em torno de Putin “não é só extraordin­ário pelos padrões históricos, é escandalos­o”, disse Strobe Talbott, ex-vice-secretário de Estado e analista da Brookings Institutio­n, que participou de mais de uma dúzia de reuniões entre o presidente Bill Clinton e o então presidente russo, Boris Yeltsin, na década de 90. “Isso prejudica o governo dos EUA – os especialis­tas e conselheir­os de gabinete que estão lá para servir (ao presidente) – e certamente dá a Putin muito mais espaço para manipular Trump.”

Aliados de Trump disseram que o presidente acredita que a presença de subordinad­os afeta sua capacidade de estabelece­r um relacionam­ento com Putin, e seu desejo por segredo também pode ser causado por vazamentos embaraçoso­s que ocorreram no início de sua presidênci­a. Em Helsinque, Trump e Putin se encontrara­m por duas horas em particular, acompanhad­os apenas por seus intérprete­s. A intérprete de Trump, Marina Gross, foi vista saindo do encontro com páginas de anotações.

As preocupaçõ­es foram agravadas por ações e posições que Trump adotou como presidente, considerad­as favoráveis ao Kremlin. Ele rejeitou a acusação de interferên­cia eleitoral da Rússia como uma “farsa”, sugeriu que a Rússia tinha o direito de anexar a Crimeia, atacou repetidame­nte os aliados da Otan, resistiu aos esforços para impor sanções a Moscou e começou a retirar as forças americanas da Síria – um movimento que os críticos encaram efetivamen­te como ceder terreno para a Rússia.

Ao mesmo tempo, a decisão de Trump de demitir o diretor do FBI James Comey e outras tentativas de conter a investigaç­ão russa em andamento levou a agência, em maio de 2017, a investigar se estava querendo ajudar a Rússia e, em caso afirmativo, por que, um passo relatado primeirame­nte pelo New York Times.

“Não estou ocultando nada, isso é ridículo. Qualquer um poderia ter escutado o que se falou nesse encontro, ele está disponível para quem quiser” Donald Trump

PRESIDENTE DOS EUA

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KEVIN LAMARQUE/REUTERS-16/7/2018 Encontro. Trump e Putin em Helsinque; presidente garante que dados estão disponívei­s

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