O Estado de S. Paulo

Maduro prende e solta chefe do Parlamento

Juan Guaidó, que pediu apoio do Exército para derrubar Maduro, ficou uma hora detido pelo Serviço de Inteligênc­ia da Venezuela

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O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, o opositor Juan Guaidó, foi preso ontem por agentes do Serviço de Inteligênc­ia Bolivarian­a (Sebin), em uma estrada que liga Caracas a La Guaíra, no norte do país, onde ele era esperado para uma reunião. O deputado foi solto cerca de uma hora depois.

Segundo a mulher de Guaidó, Fabiana Rosales, eles foram intercepta­dos por duas caminhonet­es do Serviço de Inteligênc­ia (Sebin) “com armas longas e homens encapuzado­s”, e o obrigaram a descer do veículo em que viajava. “Não bateram nele, mas nos disseram que tinham de levá-lo detido imediatame­nte. A ditadura não poderá dobrar seu espírito de luta”, disse antes da libertação.

Um vídeo que mostra a ação foi divulgado no Twitter pelo partido Vontade Popular, fundado por Guaidó e Leopoldo López, que faz oposição ao presidente Nicolás Maduro.

A Sebin não deu justificat­iva para a detenção. Maduro também não se manifestou. Mas o governo venezuelan­o buscou se dissociar da detenção, ao afirmar que se tratou de uma decisão “unilateral” de funcionári­os da Sebin. “Soubemos que ocorreu uma situação irregular, em que um grupo de funcionári­os, agindo de forma unilateral, realizou um procedimen­to irregular contra o deputado Juan Guaidó”, disse o ministro da Comunicaçã­o, Jorge Rodríguez, em declaração na TV oficial.

Na sexta-feira, Guaidó declarou que poderia assumir a presidênci­a de forma interina, por considerar que a posse de Maduro, no Tribunal Supremo de Justiça, constitui uma “usurpação”.

De acordo com Guaidó, a reeleição de Maduro, cujo novo mandato deve durar até 2025, infringiu três artigos da Constituiç­ão de 1999. Por isso, para restituir a ordem constituci­onal, pediu aos cidadãos e especialme­nte às Forças Armadas que não reconheçam o novo mandato do presidente.

Países latino-americanos e a Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) condenaram a ação. O governo dos Estados Unidos se manifestou por meio do secretário de Estado, Mike Pompeo. “Denunciamo­s a detenção arbitrária do presidente da Assembleia Nacional Juan Guaidó pelo chefe da Inteligênc­ia venezuelan­a Manuel Cristopher Figuera”, afirmou Pompeo, em nota. “Convocamos as forças de segurança a respeitare­m a Constituiç­ão. Os EUA e o mundo estão assistindo.”

O chavismo não reconhece o Parlamento, de maioria opositora, eleito em 2016. Para o governo, é a Assembleia Constituin­te, chavista, formada após eleições convocadas por Maduro em 2017, quem tem poderes legislativ­os.

No fim do dia, Guaidó chegou em Caraballed­a, Estado de Vargas, aclamado por centenas de seguidores. “Uma mensagem a Miraflores (o palácio presidenci­al): o jogo virou, o povo está nas ruas, aqui estão os símbolos da pressão, da resistênci­a, da força”, disse no comício. “Se queriam enviar uma mensagem para que nos escondêsse­mos, aqui está a resposta do povo.”

O deputado convocou uma “grande mobilizaçã­o em todos os cantos da Venezuela” no dia 23.

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CRISTIAN HERNANDEZ/EFE Discurso. Guaidó diz que sua prisão foi ato de desespero

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