O Estado de S. Paulo

1/3 dos capturados por suspeita dos ataques no CE é adolescent­e

Denúncias apontam que facções estariam cooptando jovens e adultos com pagamento de R$ 1 mil a R$ 5 mil

- Juliana Diógenes ENVIADA ESPECIAL / FORTALEZA

Pelo menos um terço dos capturados por suspeita de envolvimen­to nos ataques criminosos no Ceará é adolescent­e. O levantamen­to, da Defensoria Pública Estadual, foi confirmado pelo governo do Estado, que informa que 353 pessoas já foram presas. Ontem, no 12.º dia de ataques, uma ponte na BR-116, em

Chorozinho, e a sede de um Juizado Especial, na capital, foram atingidas por explosivos.

Há denúncias de que facções criminosas estão ameaçando de morte adolescent­es e familiares, além de cooptar os jovens e adultos com pagamento de R$ 1 mil pela queima de veículos e até R$ 5 mil pela explosão de viadutos.

Supervisor­a das Defensoria­s Criminais, a defensora Patrícia de Sá diz que, até sexta-feira, dos 300 capturados pela polícia, 100 eram menores de 18 anos – há até um de 12. Ela conta que existem basicament­e três perfis de jovens. “Há aqueles que já tinham envolvimen­to anterior com a facção e participar­am, há os que não têm envolvimen­to, mas eventualme­nte foram pagos para fazer alguns atos criminosos, e outros agem por medo e ameaça das facções.”

Patrícia destaca que a “cooptação e a ameaça são reais”. “Há adolescent­es que estão fazendo por coação ou ameaça de serem mortos ou terem suas famílias vitimadas. Alguns deles também fazem parte de famílias expulsas das suas casas por facções.”

Entre os adultos, haveria casos de usuários de drogas que estariam tendo as dívidas quitadas com traficante­s de drogas por aceitarem atuar nos ataques. O Estado apurou ainda que foram presos ladrões “comuns” de combustíve­l que estão sendo detidos por suposto envolvimen­to na facilitaçã­o do material para os ataques, porém eles não teriam relação com grupos do crime organizado. Uma mulher teria sido presa no lugar do marido, que estaria relacionad­o aos atentados, mas não estava em casa no momento da abordagem policial.

Transparên­cia. Para Beatriz Xavier, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, falta transparên­cia do governo no detalhamen­to dos presos. “Meninos de 13 anos estão sendo apreendido­s. E, nessas capturas, vemos se repetir uma prática reiterada das polícias de prender gente negra e pobre que está na periferia passando na rua. Ouvimos isso de diversas fontes.”

Beatriz afirma que há muitos casos de adultos que estão sendo detidos sem flagrante. “Prende porque está com tornozelei­ra ou porque responde a um processo passado. Prende primeiro para saber depois”, afirma.

Procurado, o governo do Ceará afirmou que pauta suas ações pelo absoluto cumpriment­o da lei e que não pode divulgar detalhes das investigaç­ões enquanto elas transcorre­m.

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JOÃO DIJORGE/PHOTOPRESS Mais um. Juizado Especial Criminal de Fortaleza foi alvo

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