O Estado de S. Paulo

Dívida faz museu de Santos Dumont fechar as portas

Instituiçã­o funciona na casa onde nasceu o ‘pai da aviação’, em 1873, no município mineiro que leva seu nome; débitos somam R$ 150 mil

- José Maria Tomazela SOROCABA

Acultura brasileira está prestes a receber mais um golpe: o Museu de Cabangu, que funciona na casa onde nasceu Santos Dumont, em 1873, no município que leva seu nome, em Minas Gerais, recebeu ontem seus últimos visitantes. Atolado em dívidas e com a estrutura deteriorad­a e o acervo ameaçado, o museu deve amanhecer hoje com as portas fechadas, após ter exibido por 70 anos importante acervo do “pai da aviação”.

“Vamos fechar antes que aconteça o mesmo que aconteceu com o Museu Nacional, no Rio”, anunciou a curadora Mônica Castello Branco, filha do fundador. O museu carioca, um dos principais do País, foi destruído por um incêndio na noite de 2 de setembro de 2018.

Mônica atribui o fechamento aos atrasos na subvenção da prefeitura, de R$ 12,6 mil mensais. Alegando falta de repasse de verbas estaduais devidas ao município, a prefeitura suspendeu os pagamentos em agosto. “Já havia atrasos anteriores e a dívida foi se acumulando pelos juros e encargos. Hoje, o museu tem débitos de R$ 150 mil, a maior parte em dívidas trabalhist­as.”

Os quatro funcionári­os estão sem receber regularmen­te há um ano. O aperto financeiro reduziu o investimen­to em conservaçã­o e três galpões de apoio estão fechados há cinco anos. O acervo foi transferid­o para a casa principal, que também tem infiltraçõ­es e rachaduras.

Em 2018, a fundação lançou a campanha online Somos Todos Museu Cabangu, com o objetivo de arrecadar R$ 177 mil, mas só conseguiu R$ 7 mil. Os débitos levaram à inscrição do CNPJ no cadastro de devedores e a fundação não consegue as certidões negativas para se beneficiar da Lei Rouanet de incentivo à cultura, por exemplo.

Na cidade de 46,3 mil habitantes, na Zona da Mata mineira, o fechamento do museu desperta reações. “É um símbolo importante que estamos perdendo. Ser a terra de Santos Dumont sempre foi um orgulho da nossa gente”, lamentou a secretária paroquial Maria Luiza de Lima.

‘Voto de confiança’. O local, que recebe 2 mil visitantes por mês, chegou a ficar uma semana fechado em fevereiro de 2018, mas reabriu após a prefeitura pagar dois dos seis meses de salários atrasados dos funcionári­os. O presidente Tomás Castello Branco disse na ocasião que a reabertura seria um “voto de confiança” ao município, mas os repasses voltaram a atrasar.

A casa onde Alberto Santos Dumont nasceu funciona como museu desde 1973 – ano do centenário do inventor – e foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Lá estão cartas, fotografia­s, documentos, roupas e móveis de Dumont. Entre os objetos há um antigo chapéu panamá, uma cama, louças e uma réplica do 14 Bis.

Em 2018, a prefeitura fez um projeto para restauraçã­o, orçada em R$ 12 milhões, mas faltou recursos. O imóvel pertence à prefeitura, mas os cuidados e manutenção são Fundação Casa de Cabangu, com apoio do município. A Aeronáutic­a cuida da segurança do museu e da área externa. Intervençã­o. O secretário de Administra­ção de Santos Dumont, José Geraldo de Almeida, disse que a prefeitura não permitirá o fechamento. “Se fechar, vamos entrar com medida judicial. A área é do município, podemos cancelar o convênio e assumir o museu.”

Procurado, o governo de Minas Gerais informou ter repassado, na primeira semana da atual gestão, R$ 500 milhões para os municípios mineiros. Informou também que trabalha para regulariza­r os repasses às prefeitura­s.

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PMSD-18/10/2018 Tentativa. Fundação fez campanha virtual no ano passado, mas só arrecadou R$ 7 mil
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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