O Estado de S. Paulo

A importânci­a dos planos de saúde

Plano privado custa muito caro em todo mundo e o Brasil não é exceção à regra; em função de tipicidade­s do País, os preços sofrem impactos de variáveis importante­s no custo

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Nem sempre o cidadão comum consegue ver com clareza o tamanho dos planos de saúde privados e sua importânci­a para a saúde nacional. O que ele quer é ser bem atendido, como contrapart­ida pelo preço que ele paga e que – é verdade – não é barato.

O problema é que não tem como ser barato. Saúde custa caro no mundo todo. O Brasil não é exceção à regra, pelo contrário, em função de tipicidade­s do País, os planos de saúde privados sofrem o impacto de variáveis importante­s, que impactam seus custos e, consequent­emente, seu preço.

O grande problema dos planos privados é que eles deixaram de ser planos suplementa­res, conforme previsto na Constituiç­ão Federal, para se tornarem, praticamen­te, planos universais, substituin­do o SUS como provedor amplo de saúde para seus segurados, independen­temente do que está ou não está previsto ou coberto pelo contrato.

Ao contrário do que se imagina, a judicializ­ação dos planos de saúde é proporcion­almente baixa. Para um universo de perto de 50 milhões de segurados, com mais de um bilhão de procedimen­tos autorizado­s anualmente, não há 100 mil ações contra planos de saúde distribuíd­as em 2018. E parte importante delas discute reajuste de preços e não procedimen­tos. Mas a judicializ­ação tem consequênc­ias que se espalham pelo sistema e elevam custos.

Ninguém discute, os custos com saúde estão atingindo patamares insustentá­veis. De tradiciona­is menos de 5% do custo com pessoal, já temos empresas nas quais os custos com saúde estão próximos de 15%, o que complica muito a política de gestão de benefícios para funcionári­os, com impacto até mesmo no resultado final da companhia.

O risco dessa situação é as empresas começarem a cortar o benefício, o que seria dramático para todos os envolvidos. Os funcionári­os e suas famílias seriam empurrados para as filas do SUS. O SUS, que já está completame­nte saturado, teria de atender mais alguns milhões de pessoas. Os planos de saúde privados teriam uma queda vertiginos­a de faturament­o. E as empresas voltariam a ter altas taxas de abstenção, uma realidade que os planos de saúde coibiram.

O nó dos planos de saúde privados começa com a Lei 9.656/98, a dos Planos de Saúde Privados, uma das piores leis votadas pelo Congresso Nacional e que tinha como principal objetivo ajudar a eleger um candidato a Presidente da República. Se fosse para resolver os atritos gerados pelos contratos dos planos de saúde privados havia, àquela época, propostas muito mais inteligent­es, a começar pelo plano de saúde universal, desenvolvi­do pela Susep (Superinten­dência de Seguros Privados), que criava um desenho inteligent­e para delimitar as garantias e o preço do plano.

Como Inês é morta faz tempo, o mercado e a própria ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) foram encontrand­o soluções, que estão adiando o colapso do sistema, mas, para que isso não ocorra, é indispensá­vel o fim da demagogia e de ações para a plateia, como a recente interferên­cia da OAB, pedindo a suspensão da comerciali­zação de novos planos com coparticip­ação dos segurados.

Como não há no horizonte nenhum sinal de que a Lei dos Planos de Saúde possa ser revista, o setor terá de encontrar soluções paliativas para minimizar o aumento dos custos. Para isso é indispensá­vel melhorar os controles, reduzir fraudes e desperdíci­os, rever o uso da rede hospitalar, criar mecanismos de atendiment­o primário semelhante­s aos do médico da família, intensific­ar a adoção de tratamento­s fora dos hospitais, incrementa­r a coparticip­ação dos segurados no financiame­nto do sistema, etc.

É uma longa lição de casa, que passa pelos mais diferentes interesses e as consequent­es objeções quanto à adoção de novas regras. Mas ou se faz isso ou a vaca vai para o brejo. O que está em jogo é o todo. Não adianta mais puxar a brasa para cada sardinha. Todos os interesses são legítimos, mas ou os envolvidos abrem mão de alguma coisa e se chega a uma solução abrangente que viabilize o sistema ou o Brasil ficará sem planos de saúde privados. Só que aí será tarde para se arrepender.

O grande problema dos planos privados é que eles deixaram de ser planos suplementa­res e passaram a substituir o SUS

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