O Estado de S. Paulo

Ney retorna mais roqueiro e com figurino único

‘Bloco na Rua’, que chega a São Paulo em março, estreia no Rio mostrando potencial para se tornar outra longa turnê

- Julio Maria

Ney Matogrosso fez a estreia nacional no Rio de mais uma turnê que promete ser longa. Bloco na Rua, que sucede a heroica Atento aos Sinais e chega a São Paulo em 29 de março, é um show roqueiro, com versões para muitas músicas conhecidas e apenas uma inédita: Inominável, de Dan Nakagawa.

O início tem um choque dos mais fortes produzidos em seu histórico. As cortinas se abrem rapidament­e, a banda começa a tocar e Ney está em um tablado ao fundo do palco, com um capuz cobrindo a cabeça e o corpo vestido por uma peça colada, dourada, como uma armadura, criada pelo estilista Lino Villaventu­ra. Um canhão de luz atinge a cabeça de Ney, ele retira o capuz e a plateia ovaciona. Então, caminha até a frente do palco e canta Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, de Sérgio Sampaio.

Ney preparou um começo arrasador, colando três músicas fortes. Assim que termina o Bloco, ataca de Jardins da Babilônia, que a amiga Rita Lee cantou com o Tutty Frutti, e depois O Beco, dos Paralamas, que tem os metais de sua introdução reproduzid­os fielmente pela pequena sessão de sopros. “Será que eu consigo chegar ao fim?”, disse Ney à tarde, depois da passagem de som, brincando com o estado ofegante que a tríade lhe deixava.

Um começo assim coloca a plateia nas mãos do artista logo no início, mas cobra seu preço. O show de Ney não tem fogo alto o tempo todo, e aquela temperatur­a ganha contraste rapidament­e já na quarta canção, Álcool, o bolero de DJ Dolores, e na seguinte, Já Sei, de Itamar Assunção e Alzira Espíndola. Sangue Latino, com novo riff de guitarra de Marcelo Negrão, fecha com vibração, mas só depois de 13 canções.

Ney inclui um bloco romântico com Mais Feliz, A Maçã, Tua Cantiga, Iolanda e Postal de Amor, quebrado só por Pavão Mysteriozo. Reabre com uma bela Como Dois e Dois e fecha com Coração Civil e Feira Moderna. Tem guardada Mulher Barriguda, dos Secos, para noites de plateias insaciávei­s. Há ainda um ritmo de palco a ser acertado que a estrada pode imprimir e uma ponderação: um único figurino o tempo não perde a força de sua exuberânci­a? Um show de tantas cores parece pedir a Ney que, por vezes, ele se desfaça do peso.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Estradeiro. Aos 77 anos, ele parte para outra temporada

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