O Estado de S. Paulo

Palocci depõe e ataca Dilma

Em depoimento à Polícia Federal, ex-ministro fala em ‘ruptura’ por controle da Petrobrás e recursos para campanha eleitoral

- Ricardo Brandt Fausto Macedo Luiz Vassallo

Ex-ministro disse em delação que nomeação de Graça Foster para a Petrobrás contrariou Lula e “deu corda” para aprofundam­ento das investigaç­ões da Lava Jato sobre ex-presidente.

Em delação premiada fechada com a Polícia Federal, o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que havia uma “ruptura” entre os ex-presidente­s Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, criada a partir da indicação de Graça Foster para a presidênci­a da Petrobrás. Segundo o ex-ministro, em função dessas divergênci­as, Dilma teria “dado corda” para o aprofundam­ento das investigaç­ões da Lava Jato para implicar e “sufocar” o ex-presidente.

Por seu relato, a nomeação de Graça representa­va “meios de Dilma para inviabiliz­ar o financiame­nto eleitoral dos projetos de Lula retornar à Presidênci­a”. À época, Dilma presidia o conselho de administra­ção da Petrobrás.

“Esse momento de ruptura se caracteriz­ava por um ex-presidente dominante que queria controlar o governo de sua indicada e preparar sua volta à Presidênci­a, sendo que isso exigia um controle do financiame­nto lícito e ilícito do seu instituto e do PT, ao passo que a presidente lutava pela renovação de seu próprio mandato”, disse Palocci no depoimento.

Palocci depôs no dia 9 de agosto do ano passado. O relato do ex-ministro foi anexado anteontem ao inquérito da PF que investiga supostas fraudes na licitação e construção da usina de Belo Monte, no Pará.

Dinheiro. Em sua delação, o ex-ministro afirmou ainda ter entregado propinas em espécie a Lula. Palocci relatou pelo menos dois episódios aos investigad­ores, um no Terminal da Aeronáutic­a, em Brasília, e outro no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em que teria entregue dinheiro vivo da empreiteir­a Odebrecht em uma caixa de celular e em uma caixa de uísque. Lula sempre negou o recebiment­o de valores ilícitos.

Este depoimento foi dado em 13 de abril do ano passado, uma semana depois que o ex-presidente foi preso para cumprir pena de 12 anos e 1 mês de reclusão no processo do triplex do Guarujá.

Segundo Palocci, os repasses a Lula teriam ocorrido em 2010. O ex-ministro relatou uma conversa que teria tido com Marcelo Odebrecht na qual o empresário acertou o repasse de R$ 15 milhões para o ex-presidente depois que a empreiteir­a entrou no negócio de Belo Monte.

O delator, que foi alvo da Operação Omertà, desdobrame­nto da Lava Jato em 2016, livrou-se da prisão depois que fechou acordo de delação com a PF.

Palocci afirmou ter repassado “em oportunida­des diversas” valores em espécie que variaram de R$ 30 mil a R$ 80 mil para Lula. Segundo Palocci, “os valores eram demandados pelo próprio Lula com a orientação para que não comentasse sobre os pedidos com Paulo Okamotto (presidente do Instituto Lula)e nem com ninguém”.

Questionad­o pela Polícia Federal se tinha testemunha­s de suas afirmações, Palocci apontou dois motoristas que trabalhava­m para ele, na ocasião.

Palocci detalhou duas entregas de dinheiro a Lula, uma em Brasília, no valor de R$ 50 mil, “escondidos dentro de uma caixa de celular”. A outra entrega teria ocorrido em Congonhas. Ele contou que, a caminho do aeroporto, “recebeu constantes chamadas telefônica­s de Lula cobrando a entrega”.

O ex-ministro falou ainda de reunião com outra empreiteir­a, Andrade Gutierrez, na qual teria sido acertado pagamento de 1% em propinas sobre o valor recebido pelo grupo nas obras de Belo Monte. Em troca, Palocci atuaria contra um consórcio que estava tentando “atravessar” a licitação.

Procurada, a Odebrecht informou que colabora com a Justiça nos termos do acordo que firmou com a Lava Jato. Até a conclusão desta edição, a reportagem tentava contato com a direção da Andrade Gutierrez.

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MPF–6/9/2017 Delator. Palocci fechou acordo com a Polícia Federal

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