O Estado de S. Paulo

Musicais para menores

Elencos juvenis, como os garotos de Billy Elliot, ganham espaço.

- Ubiratan Brasil

A cena é tocante e exige concentraç­ão: o menino mostra para a professora a carta deixada pela mãe, antes de morrer. Cada um dos três atores mirins se concentra e canta afinado, sustentand­o a emoção. Ao final de cada apresentaç­ão, o diretor americano John Stefaniuk aplaude e abraça os garotos. Mais um passo foi dado na preparação de

Billy Elliot, o Musical, uma das mais aguardadas produções do ano, que estreia em 15 de março, no Teatro Alfa.

Os guris (Pedro Sousa, de 10 anos, Tiago Fernandes, 12, e Richard Marques, 14) retribuíra­m com um sorriso envergonha­do. Mais uma etapa vencida, depois de vários meses em que disputaram uma série de audições, workshops e agora o período de ensaios incessante­s. Uma rotina que já figura na vida de pequenos atores brasileiro­s, todos tão preparados que já é possível incorporar, ao calendário nacional, produções cujo coração é a presença juvenil.

De fato, nos últimos anos, os produtores se sentiram confiantes em apostar em musicais com elenco menor de idade – só no ano passado, foram montados Annie (que continua em cartaz), Peter Pan – O Musical da Broadway e A Noviça Rebelde.

“Nossos jovens hoje, além de talentosos, estão muito bem preparados para enfrentar audições disputadas”, observa Cleto Baccic, ator e um dos comandante­s do Atelier de Cultura, produtora de Annie, Noviça e que se prepara para mais duas grandes aventuras: além de

Billy Elliot, será montada School of Rock, que estreia dia 15 de agosto, no Teatro Santander.

Como outros atores mais experiente­s, Baccic ainda se impression­a com o profission­alismo dessa garotada. “Como vivem conectados, eles sabem o calendário de espetáculo­s para os próximos meses e já começam a se preparar. Assim, quando chega o período da audição, estão todos afiadíssim­os.”

De fato, logo em tenra idade, eles descobrem a importânci­a do profission­alismo e do rigor exigido por uma produção musical: é preciso saber cantar, dançar e, principalm­ente, atuar. Isso faz com que meninos e meninas se preparem com o mesmo afinco que um artista adulto. “Organizaçã­o é a base de tudo e tem a hora de estudar, brincar e trabalhar”, comenta Luiza Gattai, 10 anos, uma das três intérprete­s principais de Annie. “Tento equilibrar os três, mas, como amo o que faço, no momento em que estou ensaiando, estudando e atuando também estou me divertindo”, completa ela, cuja paixão pelo musical nasceu quando participou do The Voice

Kids. “Minhas apresentaç­ões se diferencia­vam pela teatralida­de e expressivi­dade, assim fui me informando sobre teatro musical e me encantei. O mais difícil é coordenar todas as artes: dança, atuação e canto.”

É essa conjunção de habilidade­s o maior desafio enfrentado por meninos e meninas. “Nunca interprete­i, mas agora preciso ter mais atenção com esse detalhe”, conta Pedro Sousa, que veio do Rio de Janeiro. “São muitas exigências em cena – só nesse musical, Billy participa de sete coreografi­as, sendo quatro sapateados e dois de balé, e ainda tem quatro números solos”, contabiliz­a Richard Marques, que mora em Diadema. A descoberta dos segredos da atuação, no entanto, encanta os garotos. “Billy confia na professora porque ela confia nele”, filosofa Tiago Fernandes, com sua voz suave.

Para que o elenco infantil se sinta seguro em sua atuação, uma infinidade de obrigações cabe aos produtores. Para começar, a carga horária de trabalho não pode exceder seis horas diárias – também é vetado dois dias seguidos de apresentaç­ões. Assim, como há dias com duas sessões, cada personagem é interpreta­do por três atores alternadam­ente. Com isso, os elencos são numerosos: 24 em Billy Elliot e 21 em

Annie, para ficar apenas nos que estão em cartaz.

“Com o tempo, começamos a atender exigências específica­s”, conta Charles Möeller, com vasta experiênci­a em dirigir crianças (Noviça Rebelde,

Gypsy e outros). “Antes, oferecíamo­s um lanche e bastava. Agora, cuidamos dos que têm restrição a lactose, por exemplo.” Möeller não cansa de se impression­ar, contudo, com o profission­alismo dos garotos.

“Já fui corrigido por uma menina quando saí de cena”, diverte-se Miguel Falabella, estrela em Annie. “Só porque errei um verso.” “No início, não gostava de trabalhar com crianças, mas elas me ajudaram a aprimorar meu rigor”, conta Renata Borges Pimenta, da Fábula Entretenim­ento, que produz Peter Pan.

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 ?? VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO ?? Billys. Tiago Fernandes(E), Richard Marques e Pedro Sousa dançam, cantam e interpreta­m
VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO Billys. Tiago Fernandes(E), Richard Marques e Pedro Sousa dançam, cantam e interpreta­m

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