Morre Marcelo Yuka, fundador do Rappa
Artista estava internado desde o início do mês por causa de AVC; em 2000, ele havia ficado tetraplégico após ser baleado em assalto
O baterista e fundador da banda O Rappa, Marcelo Yuka, morreu às 23h40 de anteontem, aos 53 anos. Ele, que também foi um ativista por direitos sociais, estava internado no Hospital Quinta D’Or, no Rio, desde o início do mês após um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.
Marcelo Yuka era o nome artístico de Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana. Anos depois de fundar a banda o Rappa, ele foi idealizador do grupo F.UR.T.O. Sua vida sofreu uma forte guinada desde quando acabou baleado em um assalto no Rio na noite de 9 de novembro de 2000. Os criminosos atiraram nove vezes contra o músico, todas nas costas, e um desses disparos atingiu a segunda vértebra torácica. Ele nunca mais conseguiu andar.
Em 2015, Yuka escreveu sobre o episódio em seu perfil no Facebook. “Me perdi, subi e desci ao inferno sem ter a certeza que não voltaria mais à escuridão... Se cheguei até aqui foi por amor, o amor de várias mulheres, amigos e mestres de todas as idades .... Minha mãe para positivar a data me deu esse dia como mais uma comemoração à vida, logo vou fazer 50 anos enquanto tenho 15... Obrigado a quem realmente esteve e está do meu lado nessa jornada.”
Yuka fundou o Rappa em 1993, com a intenção de acompanhar o cantor caribenho Papa Winnie em suas apresentações no Brasil. O grupo tinha Nelson Meirelles, que era produtor do Cidade Negra; Marcelo Lobato (áfrica Gumbe); Alexandre Menezes, o Xandão; e Marcelo Yuka (que havia passado pela banda KMD-5). Após os trabalhos com Winnie, os músicos resolveram seguir em frente e procuraram um vocalista. Depois de anunciarem a vaga no jornal,
chegaram a Marcelo Falcão.
Yuka ficaria no grupo até 2001, assinando músicas que ditavam o rumo ideológico do grupo, como Pescador de Ilusões, A Feira, Minha Alma (A paz que eu não quero), entre outras.
Sua saída aconteceu depois de ficar paraplégico, com uma série de divergências entre ele e outros integrantes do grupo, que encerrou sua última turnê em abril de 2018. O grupo F.UR.T.O, segundo o que dizia em entrevistas, se tratava de um projeto ainda maior, com intenções sociais, algo que não poderia fazer em O Rappa.
Na fase mais recente, o artista
lançou um disco com o produtor Apollo 9 chamado Canções para depois do ódio, de 2017. Ali, seu combustível era biográfico, ressaltando a depressão pela qual havia passado, tratada com ioga e meditação. Sua vida e sua recuperação após ter ficado paraplégico foram retratadas no documentário Marcelo Yuka no Caminho das Setas, da jornalista Daniela Broitman.
Militante de direitos sociais, especialmente sobre violência, Yuka também teve passagem pela política. Ele se filiou ao PSOL e disputou as eleições em 2012 como candidato a vice-prefeito do Rio na chapa encabeçada
pelo hoje deputado federal eleito Marcelo Freixo (PSOL).
O AVC pelo qual foi internado no início deste ano foi o segundo em poucos meses. Em agosto de 2018, ele já havia sofrido outro acidente vascular.
Despedida. O velório, aberto ao público, foi realizado ontem à tarde na Sala Cecília Meireles, na Lapa, região central carioca. Parentes, fãs e amigos, como o cantor Marcelo D2, foram se despedir. Lá, um quadro com um desenho do rosto do artista foi entregue à família. Até o início da noite de ontem, não havia informações sobre o enterro.