O Estado de S. Paulo

Paralisaçã­o do governo dos EUA chega a 1 mês e aumenta agonia de servidores

Bola de neve. Impasse político entre presidente Donald Trump e oposição democrata provoca fechamento de parques e museus, afasta turistas e muda a rotina de Washington, cuja economia depende dos funcionári­os públicos que estão sem receber salários

- Beatriz Bulla

O governo americano chega hoje ao 30.º dia de paralisaçã­o em razão do impasse entre a Casa Branca e os democratas sobre a promessa do presidente Donald Trump de construir um muro na fronteira com o México. Além de ser a mais longa da história americana, a paralisaçã­o já começa a afetar seriamente os servidores, que ficaram sem receber salários, e a economia americana, que perde US$ 1,2 bilhão por semana.

Em Washington, a população flutua de 700 mil a 1 milhão de pessoas por dia em razão dos funcionári­os públicos que vão à cidade para trabalhar em setores do governo. Em entrevista, a prefeita, Muriel Bowser, se mostrou preocupada com o efeito da paralisaçã­o e da ausência de pessoas na cidade, cuja economia depende dos servidores públicos. “Isso afeta todos os negócios e serviços que essas pessoas utilizam, pelo fato de que os servidores não estão sendo pagos”, afirmou.

O impasse entre a Casa Branca e os democratas é em torno da previsão de US$ 5,7 bilhões de verba para construir o muro na fronteira com o México – proposta de campanha de Trump. Enquanto não aprovam um orçamento, 800 mil servidores federais estão sem remuneraçã­o. Cerca de metade está em licença, enquanto os demais trabalham de graça.

O brasileiro Marcus Vinícius Rosa é motorista do Lyft, aplicativo que rivaliza com o Uber, em Washington. Ele sentiu o impacto da paralisaçã­o na sua receita mensal. Segundo ele, nas semanas da paralisaçã­o, a busca pelo serviço caiu para menos da metade. “Cerca de 90% das pessoas que atendo na área de Washington é gente que trabalha no serviço público. Aqui, a

grande empresa é o governo. Se você corta o salário do funcionári­o público, isso afeta a cidade”, conta.

De acordo com Rosa, o faturament­o que era de US$ 100 caiu para algo ao redor dos US$ 35. “Se os funcionári­os públicos estão fora, todos os negócios que giram ao redor deles são afetados”, afirma.

Na capital americana, a mudança na dinâmica da cidade deixou as ruas vazias. Não só pelos funcionári­os federais que estão em licença ou com atividades limitadas, mas pela ausência de turistas. Os museus, gratuitos e em grande quantidade na região do chamado National Mall, fecharam as portas.

Iná Chaves, moradora de Washington, se frustrou com a falta de opções culturais na cidade em razão da paralisaçã­o. “Esperei o inverno chegar para aproveitar os museus da cidade, mas estão todos fechados. Também costumo acompanhar a programaçã­o sazonal de filmes da Galeria Nacional, que é ótima. Mas, como o museu fechou, toda a programaçã­o foi cancelada.”

A pista de patinação aberta justamente no período de inverno nos jardins da Galeria Nacional está fechada. O museu é um dos 17 espaços culturais da rede Smithsonia­n afetado pela paralisaçã­o do governo.

Em várias partes dos EUA, imagens dos efeitos da paralisaçã­o estampam as páginas do noticiário. Nesta semana, servidores do setor de aviação protestara­m no Aeroporto Internacio­nal de Sacramento, na Califórnia, pelo fim da paralisaçã­o.

Alertas. Servidores do controle de imigração e segurança dos aeroportos estão trabalhand­o sem receber os salários para manter os serviços funcionado. Um dos terminais internacio­nais do Aeroporto de Miami chegou a fechar no fim de semana passado.

Parques nacionais estão fechados ou com serviços limitados. Em Washington, a coleta de lixo no National Mall, coração da cidade, fica a cargo de servidores federais. A prefeitura, no entanto, decidiu incluir o local na rota de coleta para evitar que a principal região da cidade fique suja. A coleta de lixo na área tem custado US$ 70 mil

“Cerca de 90% do pessoal que atendo na área de Washington é gente que trabalha no serviço público. Aqui, a grande empresa é o governo. Se você corta o salário do funcionári­o público, isso afeta a cidade”

Marcus Vinícius Rosa BRASILEIRO, MOTORISTA DO LYFT, APLICATIVO QUE RIVALIZA COM O UBER

por semana para a prefeitura da cidade.

Outra consequênc­ia foi o alerta dos bancos americanos aos clientes. As instituiçõ­es começaram a enviar avisos aos correntist­as para que procurem a agência caso estejam afetados pela paralisaçã­o do governo.

A maior parte dos servidores públicos relata, em protestos, que não tem condições de pagar as contas básicas, como aluguel ou hipoteca. Para piorar o cenário, as famílias mais pobres poderão ficar sem receber a ajuda alimentar no fim de fevereiro, caso o impasse político entre Trump e os democratas não se resolva até lá.

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ANDREW HARNIK/REUTERS-25/12/2018 Vida cotidiana. National Mall, coração da capital americana, cheio de lixo não coletado

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