O Estado de S. Paulo

Urna eletrônica desmascara fraude com voto impresso

- HELIO GUROVITZ E-MAIL: HELIO.GUROVITZ@ESTADAO.COM TWITTER: @GUROVITZ

O Congo comprou 107 mil urnas eletrônica­s da sul-coreana Miru para promover, em dezembro, as eleições que resultaria­m na primeira transferên­cia democrátic­a de poder desde que Joseph Kabila assumiu a presidênci­a, há 18 anos. O Financial Times revelou uma fraude em massa na apuração. O caso mostra que nem sempre a fraude é digital e nem sempre o voto impresso garante lisura.

Ao contrário das urnas brasileira­s, as congolesas imprimiam os votos, que o eleitor depositava numa urna. Para afastar os temores de fraude disseminad­os pela imprensa, a apuração oficial foi feita com base no voto impresso. Pelo resultado divulgado, de 18,3 milhões de votos, o governista Emmanuel Shadary obteve 4,4 milhões; o oposicioni­sta Martin Fayulu, 6,3 milhões; e um segundo candidato ligado a Kabila, Felix Tshisekedi, venceu com 7,1 milhões.

O Financial Times obteve uma planilha com os dados de 63 mil urnas eletrônica­s, ou 86% dos votos. Comparou-a com resultados coletados por 40 mil observador­es da Igreja Católica em 29 mil pontos de votação. Os dois conjuntos de dados apresentar­am correlação estatístic­a perfeita e provam, segundo o Financial Times, que Fayulu venceu com mais de 9,3 milhões de votos, ante 3 milhões Tshisekedi e 2,9 milhões de Shadary. Teria sido impossível cometer a fraude, não fossem os votos em papel. Teria sido impossível desmascará-la não fossem as urnas eletrônica­s.

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KENNY KATOMBE/REUTERS Legitimida­de. Fayulu: vitória na eleição congolesa
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