O Estado de S. Paulo

O papel da gasolina nas receitas do crime

- Cristiano Dias

Dados oficiais dizem que 2,2 bilhões de litros de gasolina foram surrupiado­s da Pemex em 2016. Foram 6,8 mil assaltos que deram prejuízo de US$ 1,5 bilhão. Em 2017, o número de casos de roubo saltou para 9,5 mil. Este ano, o novo governo mexicano colocou o rombo acima dos US$ 3 bilhões. As perdas aumentaram à medida que o crime organizado começou a explorar o negócio.

Hoje, o cartel mexicano é uma espécie de holding do mercado ilícito. As drogas ainda são o carro-chefe, mas os lucros com outras atividades diversific­aram as receitas e deixaram as organizaçõ­es mais dinâmicas. Nesse contexto, tráfico de imigrantes, extorsões, sequestros, pirataria, contraband­o fizeram os cartéis ficarem menos dependente­s do mercado da droga. O roubo de combustíve­l, portanto, é só uma peça da engrenagem.

No México, o procedimen­to usado para afanar gasolina é chamado de “ordenha de dutos”. Funciona mais ou menos assim: o criminoso faz um corte na tubulação e instala uma torneira. Parece simples, mas não é. Antes de sair furando a tubulação, é fundamenta­l saber quando o combustíve­l passa, ter um mapa com os locais adequados e, mais importante, controlar a pressão com equipament­os sofisticad­os. Depois, é preciso levar o material roubado e distribui-lo em postos de gasolina. Ou seja, nada disso pode ser feito sem a cumplicida­de dos servidores da Pemex.

Muitos funcionári­os da estatal estão na folha de pagamento dos cartéis. E o dinheiro flui de maneira democrátic­a para soldadores, mecânicos, engenheiro­s e gerentes. Recentemen­te, o governo confirmou que Eduardo León Trauwitz, ex-chefe de segurança da Pemex, também é investigad­o por envolvimen­to no negócio.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil