O Estado de S. Paulo

Oposição negocia com EUA sanção à Venezuela

Tema foi discutido em Brasília e incluído na agenda de Davos, afirma Antonio Ledezma

- Jamil Chade

Um representa­nte do Tesouro dos EUA esteve reunido nesta semana com líderes da oposição venezuelan­a em Brasília para negociar sanções contra a Venezuela. A informação foi revelada ao ‘Estado’ pelo ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, que esteve na reunião. A discussão deve continuar em Davos, onde seis presidente­s latino-americanos debaterão a crise a partir de terça-feira.

Segundo Ledezma, a ideia de asfixiar o regime ganhou forma no início de janeiro, quando o Grupo de Lima – aliança de países da região formada para pressionar a Venezuela – chegou a um entendimen­to de que algumas medidas poderiam ser aplicadas. “Agora, é uma questão de avaliar como cada governo pode realizar isso”, disse o opositor.

Ledezma fugiu da Venezuela em novembro de 2017, passou pela Colômbia e se refugiou na Espanha. Seu trajeto é mantido em sigilo, mas ele garante que foi ajudado por “militares venezuelan­os e por um terço” que até hoje leva consigo. Ele admitiu que chegou a planejar uma fuga por Roraima, mas optou pela fronteira com a Colômbia.

Ledezma revelou que, em Brasília, o grupo de opositores venezuelan­os esteve reunido com o presidente do Grupo de Ação Financeira Internacio­nal (Gafi), o americano Marshall Billingsle­a. Além de chefiar a instituiçã­o, Billingsle­a comanda a Secretaria de Crimes Financeiro­s e Financiame­nto do Terrorismo, ligada ao Departamen­to do Tesouro dos EUA.

“As sanções estão na agenda”, disse Ledezma, que indicou

Pressão • “O Brasil busca um papel destacado na solução da crise. Vemos o presidente Bolsonaro como um homem que está cumprindo o que prometeu durante a campanha eleitoral” Antonio Ledezma EX-PREFEITO DE CARACAS E UM DOS LÍDERES DA OPOSIÇÃO DA VENEZUELA

que espera que o governo brasileiro siga a mesma orientação. Ao Estado, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, indicou que, por enquanto,

não há uma ordem do presidente Jair Bolsonaro para aplicar sanções, mas o Brasil não descarta medidas duras no futuro. “Dependendo de como será a evolução nos próximos meses, pode não apenas ter gestos de apoio, mas adotar outras medidas”, afirmou Lorenzoni.

Ledezma acredita que os governos latino-americanos estão buscando uma “forma constituci­onal” de colocar em andamento essas sanções. Segundo ele, a oposição venezuelan­a aposta nos brasileiro­s para acelerar a transição. “O Brasil busca um papel destacado na solução da crise. Vemos o presidente Bolsonaro como um homem

que está cumprindo o que prometeu durante a campanha eleitoral”, afirmou.

Davos. Ledezma diz que o próximo passo no debate sobre a crise venezuelan­a será dado em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial. Uma sessão sobre o assunto está programada para a quarta-feira, com a presença de Bolsonaro e de outros líderes regionais. Na pequena estação de esqui da Suíça, seis presidente­s latino-americanos confirmara­m presença no evento que reúne a elite financeira mundial.

Na quinta-feira, outro debate será realizado sobre a Venezuela

em Davos, com a participaç­ão do chanceler do Equador e pesquisado­res. “A comunidade internacio­nal está preocupada e existe um risco de uma crise regional”, disse Ledezma.

Para o ex-prefeito de Caracas, a proposta lançada por Maduro, na sexta-feira, de ter um encontro “cara a cara” com o presidente americano, Donald Trump, “não tem chance de ocorrer”. “Ele (Maduro) não é o presidente da Venezuela. Isso mostra que ele está desesperad­o. Maduro não aproveitou as oportunida­des que teve para um diálogo real. Agora, ninguém acredita que ele queira o diálogo.”

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PIERRE ALBOUY / REUTERS - 20/2/2018 Diplomacia. Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas: em busca de aumentar a pressão sobre regime chavista

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