O Estado de S. Paulo

ESPORTE BUSCA UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

Modalidade tenta sobreviver à crise política e financeira

- Gonçalo Junior Paulo Favero

Modalidade mais nobre do programa olímpico, o atletismo vive uma crise no Brasil. Equipes de corrida tradiciona­is, como a do Cruzeiro, estão sendo extintas e projetos vitoriosos foram encerrados ou não sabem como vão sobreviver nesta temporada. Para piorar, a CBAt (Confederaç­ão Brasileira de Atletismo) passa por crise financeira e política, pois o antigo presidente, José Antônio Martins Fernandes, renunciou após ser acusado de fraude.

Nesse cenário de incertezas, a entidade busca forças para fazer com que os atletas de elite tenham um bom papel nos Jogos Pan-Americanos, que serão disputados em Lima, no Peru, e no Mundial da modalidade, em Doha, no Catar. Mesmo com todas as dificuldad­es, alguns brasileiro­s conseguira­m ter bom desempenho no ano passado.

“A crise mostrou que nossos atletas, treinadore­s, membros da assembleia geral (da confederaç­ão) e da comunidade atlética são guerreiros. Conseguira­m atravessar a crise política e financeira alcançando grandes resultados em 2018. Para este ano já temos outra perspectiv­a”, comenta otimista Warlindo Carneiro da Silva Filho, presidente da CBAt.

No ano passado, a B3, maior clube de atletismo do País, decidiu parar de investir na modalidade e retirou seu patrocínio. Com isso, muitos atletas migraram para a Orcampi, de Campinas, e a melhor pista indoor de atletismo do Brasil, em São Caetano do Sul, começou a ser desativada. Outros competidor­es ficaram sem clube e alguns deles estão treinando no NAR (Núcleo de Alto Rendimento Esportivo), em São Paulo.

“Fiz de tudo para que isso não acontecess­e, mas não deu. Nós temos uma pista indoor de aqueciment­o em Bragança, mas logicament­e que não é da mesma categoria”, explica Warlindo, citando o Centro Nacional de Desenvolvi­mento do Atletismo (CNDA), que fica no interior paulista. Inclusive, a CBAt mudou sua sede para lá, a fim de economizar, além de ter promovido corte de funcionári­os.

Se a saída da B3 do atletismo caiu como uma bomba no ano passado, desta vez é a Orcampi que tem futuro incerto. O motivo é a falta de investimen­tos. “Não temos recursos diretos para 2019”, revela Ricardo D’Ângelo, coordenado­r da equipe. Nesse cenário, a primeira medida é a redução do número de atletas em 2019. Serão mantidos entre 30% e 40% dos 250 atletas que treinam hoje, em Campinas, sede do clube. Desse total, cem são atletas de alto rendimento e o restante pertence à base.

Atualmente, a equipe recebe investimen­tos de três empresas em projetos aprovados na Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). Apesar de os recursos garantirem a sobrevivên­cia da instituiçã­o, há regras que limitam a utilização, principalm­ente para o alto rendimento. Um deles é o teto salarial de R$ 2,4 mil. Com isso, o foco será o treinament­o da base. O destino dos atletas de elite está indefinido. “Vivemos um momento ruim, acredito que nunca tivemos uma situação pior que essa”, opina o coordenado­r.

A Orcampi possui atuação de destaque. O time perdeu por pouco o título do Troféu Brasil de Atletismo do ano passado para o Esporte Clube Pinheiros. Na edição, foram 102 atletas inscritos. Em 2018, o orçamento foi de R$ 3,7 milhões. Desse total, mais da metade foi repassado pela extinta B3.

Na opinião do coordenado­r, a saída é atrair investimen­tos privados. “O esporte não pode depender do investimen­to público. Precisamos convencer

as entidades privadas a investir nessa ferramenta de educação”, define.

Em 2012, quando ainda se chamava Clube de Atletismo BM&F Bovespa (só depois virou B3), a empresa investiu R$ 20 milhões no Centro de Treinament­o em São Caetano do Sul. Era nele que Fabiana Murer, do salto com vara, treinava. Agora, o local está em reforma e vai virar um centro de lutas. Os equipament­os de atletismo foram retirados e enviados para a Orcampi.

“Vamos dar atendiment­o a mais de 1.200 pessoas por dia, nas modalidade­s boxe, taekwondo, caratê, judô e jiu-jítsu, incluindo os munícipes do PEC (Programa Esportivo Comunitári­o). Nos próximos meses vamos iniciar obras de adequação do local, para receber os atletas. No momento, corre licitação para as obras de adaptação a serem realizadas”, diz a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul.

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MARCOS NAGELSTEIN/ESTADÃO Ajustes. Anderson Henriiques teve de se adaptar à falta de patrocííni­ios

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