O Estado de S. Paulo

Bancada sindical é a menor dos últimos 30 anos

Plano do governo Bolsonaro de ‘aprofundar’ reforma trabalhist­a deve encontrar menos resistênci­a entre deputados e senadores

- Eduardo Rodrigues /

Embora a prioridade do governo seja reformar a Previdênci­a, Jair Bolsonaro tem dito que também pretende “aprofundar” a reforma trabalhist­a. Mas, ao contrário das mudanças nas regras de aposentado­ria, que já são alvo de forte resistênci­a dos parlamenta­res, alterações na CLT devem encontrar um caminho mais livre: a bancada sindical na próxima legislatur­a – que se inicia em fevereiro – será a menor dos últimos 30 anos.

De acordo com levantamen­to do Departamen­to Intersindi­cal de Assessoria Parlamenta­r (Diap), a partir do próximo mês a Câmara terá apenas 35 parlamenta­res com origem ou ainda ligados a sindicatos.

A quantidade é bem inferior a da atual legislatur­a, que contava com 51 deputados nesse campo de atuação. Entre 2010 e 2014 havia pelo menos 83 deputados federais vinculados ao sindicalis­mo. No Senado, a bancada ligada às pautas sindicais caiu de nove para cinco parlamenta­res.

Já a bancada patronal – que considera os empresário­s que se elegeram para o Congresso no ano passado – também diminuiu, mas em proporção muito menor. De 250 parlamenta­res para 234, sendo 196 na Câmara e 38 no Senado.

Ou seja, para cada deputado sindicalis­ta haverá mais de cinco deputados empresário­s. No Senado, essa proporção é de pelo menos um para sete. Além disso, na avaliação do Diap, as bancadas que cresceram nessa legislatur­a – militares, evangélico­s e ruralistas – não têm dificuldad­es em votar a favor da agenda patronal.

“A agenda no Congresso continuará voltada para o interesse dos empresário­s, com um espaço cada vez mais estreito para a discussão pelos trabalhado­res. A primeira reforma trabalhist­a reduziu os recursos dos sindicatos, sem um período de transição para se buscar alternativ­as financeira­s. Isso se refletiu em uma menor capacidade de eleger representa­ntes”, avalia o analista político do Diap, Marcos Verlaine.

Moderação. Segundo ele, como o próprio presidente Bolsonaro já deixou claro que não deve abrir grandes canais de entendimen­to com as centrais sindicais, o trabalho da bancada que representa essas entidades deverá ser o de criar espaços para que o debate não fique interditad­o.

“Só pode bater de frente quem tem força equivalent­e. A bancada sindical não terá condições de enfrentar a bancada dos patrões. A moderação é o melhor caminho. É importante negociar, porque qualquer vitória já será importante no atual contexto.”

Para tocar tanto a reforma da Previdênci­a como o aprofundam­ento da reforma trabalhist­a, Bolsonaro escalou o relator desta última na Câmara, o exdeputado Rogério Marinho, que não se reelegeu em 2018.

Durante a campanha, o presidente prometeu a criação de uma nova carteira de trabalho com outras cores na capa (a carteira verde-amarela), que seria voluntária para os jovens e teria menos direitos que os garantidos pela Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT).

A Constituiç­ão Federal já assegura no artigo 7.º uma série de direitos (mais de 30), como a aposentado­ria, repouso semanal remunerado, 13.º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e seguro-desemprego. Mas o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em seu primeiro discurso à frente da pasta que o novo governo “vai inovar e abandonar a legislação fascista da CLT”.

“Só pode bater de frente quem tem força equivalent­e. A bancada sindical não terá condições de enfrentar a bancada dos patrões. A moderação é o melhor caminho. É importante negociar, porque qualquer vitória já será importante no atual contexto.” Marcos Verlaine ANALISTA POLÍTICO DO DIAP

Para o professor de Direito do Trabalho do Insper, Fernando Peluso, a vantagem numérica no Parlamento aponta para um cenário favorável a novas mudanças na legislação trabalhist­a, mas não significa que o governo “passará por cima” da oposição.

“A proposta terá de obedecer o mesmo trâmite usual do Congresso, e qualquer tentativa de reforma trabalhist­a gera comoção social e barulho no mercado. Como se trata de um assunto que envolve questões

políticas muito fortes, a aprovação pode não ser tão fácil como parece”, avalia o professor.

Além disso, aponta Peluso, a depender do desempenho do governo nas tratativas da reforma da Previdênci­a, as mudanças na legislação trabalhist­a podem até mesmo ser adiadas por um tempo. “Se houver um desgaste político muito grande pela aprovação da Previdênci­a, o governo pode optar por segurar as mudanças trabalhist­as até recompor esse cenário que hoje parece muito favorável.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-11/7/2017 Balanço. Câmara terá apenas 35 parlamenta­res com origem ou ligados a sindicatos

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