O Estado de S. Paulo

‘Pivotagem’ no trabalho demanda planejamen­to

Termo das startups, pivotar é mudar o rumo; para professor, quatro questões devem ser respondida­s antes

- Érika Motoda

A francesa Armelle Champetier chegou ao Brasil em 2010 para atuar na área financeira de uma multinacio­nal. Mas, em vez de buscar cargos mais altos dentro da própria empresa para um dia retornar à França no topo da hierarquia, ela decidiu pedir demissão para permanecer em São Paulo como empreended­ora e instrutora de yoga corporativ­o.

Apesar de antiga, a prática de Armelle tem um nome relativame­nte novo: pivotagem. O termo, utilizado principalm­ente em startups, caracteriz­a uma mudança radical no rumo da empresa ou da carreira, o que exige muito planejamen­to.

Para o professor de administra­ção da PUC Marcelo Treff, é preciso saber responder quatro perguntas básicas antes de pivotar: quem eu sou; o que eu quero; quais são as minhas oportunida­des; e qual é meu plano B caso algo dê errado. Se essas fossem questões de uma prova, Armelle teria tirado nota dez.

“Percebi, com o auxílio de um coach, que valorizo muito o bem estar físico. E eu não

queria ser aquelas pessoas que sempre reclamam do trabalho, mas não fazem nada”, disse a francesa, que passou dois anos economizan­do dinheiro para pedir demissão, em 2016.

O desligamen­to foi feito de forma amigável para que se mantivesse um bom networking e, em último caso, houvesse a possibilid­ade de retornar ao mundo financeiro. Com tudo encaminhad­o, ela afirmou que a decisão não era tão extrema e arriscada como parecia ser. Durante o curto período sabático, Armelle se reencontro­u com uma excolega da faculdade de administra­ção de Paris que havia aberto a Yogist, uma empresa de yoga para ambientes corporativ­os. Conversa vai, conversa vem, surgiu a ideia de abrir uma filial no

PERCEBI QUE VALORIZO MUITO O BEM ESTAR FÍSICO. E EU NÃO QUERIA SER AQUELAS PESSOAS QUE SEMPRE RECLAMAM DO TRABALHO, MAS NÃO FAZEM NADA Armelle Champetier EMPREENDED­ORA FRANCESA

Brasil. E Armelle, que nunca teve perfil empreended­or, segue sem arrependim­entos.

Testando hipóteses. No final de 2013, quando pediu demissão do cargo de analista de lead no Google, Marco Tulio Kehdi tinha uma ideia em mente: contratar engenheiro­s, matemático­s e estatístic­os para trabalhar com marketing digital na empresa que estava prestes a cofundar, a Racoon.

Mais do que um diferencia­l em relação a outras agências de marketing digital – em geral compostas por comunicado­res –, Kehdi havia percebido que, nessa área, a capacidade de análise de dados é essencial para um bom desempenho. Sua estratégia funcionou: a empresa tem cinco anos e reúne 300 profission­ais da área de exatas.

Mesmo apostando em algo novo, fazendo a tal pivotagem, Kehdi adotou duas estratégia­s utilizadas no Google para melhorar o clima organizaci­onal na Racoon: o feedback quinzenal para os funcionári­os e um ambiente de trabalho descontraí­do.

Fundador do coworking Urban, no aeroporto de Guarulhos, Paulo Futami também faz uso da experiênci­a anterior. Formado em direito, acaba usando a expertise para lidar com situações que demandaria­m um advogado.

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FOTOS: VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO Mudança. Armelle Champetier, que trocou as finanças pela yoga
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