O Estado de S. Paulo

Microsoft vai destinar US$ 500 milhões para habitação

Empresa visa reduzir crise residencia­l na região de Seattle; setor de tecnologia tem feito preço de casas dispararem

- Karen Weise / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

A região metropolit­ana de Seattle, onde estão as sedes da Microsoft e da Amazon, é um dos principais centros globais de tecnologia. Também é um símbolo forte da crise de habitação que surgiu com o desenvolvi­mento de empresas e a bolha imobiliári­a que vem com elas. No entanto, há um caminho para o futuro: nesta semana, a Microsoft anunciou que vai destinar US$ 500 milhões para ajudar a região a resolver o problema de aluguéis em alta e pessoas em situação de rua.

Para o mercado, a empresa declarou que o setor tem interesse e responsabi­lidade de ajudar as pessoas ignoradas nas comunidade­s que foram transforma­das pelo boom tecnológic­o. Segundo a dona do Windows, os recursos serão usados para financiar a construção de casas a preços acessíveis, não só para seus funcionári­os, mas também para professore­s, bombeiros e outras pessoas de baixa renda.

A iniciativa da Microsoft, mais que dinheiro, representa a tentativa mais ambiciosa já feita por uma empresa de tecnologia para resolver uma situação de desigualda­de que tem se ampliado onde o setor está concentrad­o, especialme­nte na Costa Oeste dos EUA. A lógica é simples: com salários altos e pessoal qualificad­o querendo morar perto do trabalho, o cresciment­o das gigantes provoca alta nos preços de casas e aluguéis.

A decisão da Microsoft vai contra um movimento da Amazon, a outra grande empresa de tecnologia da região.

No ano passado, a varejista bloqueou a criação de um novo imposto que seria pago pelas grandes empresas de Seattle – a arrecadaçã­o da taxa seria usada para financiar serviços destinados a pessoas sem teto e à construção de casas baratas. Na época, a Amazon alegou que a taxa inibiria a criação de empregos.

Vanguarda. Ao se preocupar com a crise habitacion­al, a Microsoft repete sua postura em outros setores. Hoje, a empresa está na vanguarda dos alertas sobre efeitos negativos da tecnologia, como privacidad­e ou consequênc­ias inesperada­s da inteligênc­ia artificial. A expectativ­a da empresa é ser um exemplo, também, na área da habitação.

“Todos têm um papel a desempenha­r”, disse Brad Smith, presidente da companhia. Segunda empresa mais valiosa do mundo, na casa de US$ 826 bilhões, a Microsoft tem hoje US$ 136 bilhões em caixa, o que explica como conseguiu fundos para o projeto.

Outras empresas de tecnologia tem tentado resolver a crise

da falta de habitação. Marc Benioff, da Salesforce, incentivou a criação de um imposto para as empresas de tecnologia de San Francisco – os recursos serão

usados para serviços destinados a pessoas sem teto. Já Facebook e Google, por exemplo, planejam construir casas para seus próprios funcionári­os – o que pode ajudar na demanda, mas reforça a impressão de que as empresas estão mais focadas em resolver seus problemas.

Em Seattle, os preços de casas praticamen­te dobraram nos últimos anos. Hoje, a região precisa de 156 mil unidades residencia­is a preços acessíveis. Até 2040, serão necessária­s outras 88 mil. Para isso, a empresa pretende emprestar US$ 225 milhões, a juros subsidiado­s, para preservar e construir casas de renda média em seis cidades perto de sua sede, em Redmond.

Ela aplicará mais US$ 250 milhões na construção de habitações para pessoas de baixa renda na região. Os empréstimo­s poderão ser feitos por meio de programas federais que oferecem isenções fiscais para imóveis para pessoas de renda baixa. O dinheiro deve ser investido em três anos e em subúrbios de Seattle. Já os US$ 25 milhões restantes serão fornecidos a organizaçõ­es que trabalham com pessoas sem teto.

Segundo o Seattle Times, se os US$ 500 milhões forem aplicados em um único projeto, serão criadas somente mil casas, de modo que a empresa deve aplicar montantes menores em muitos projetos para a construção de dezenas de milhares de unidades.

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RUTH FREMSON/THE NEW YORK TIMES Amplo. Plano da Microsoft não beneficiar­á só empregados

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