O Estado de S. Paulo

Cooperativ­a potenciali­za microempre­endedor.

Microempre­endedores cooperados dividem bônus e também ônus por igual, mas ganham força pela união

- Letícia Ginak

A gestão solitária de artesãos, pequenos agricultor­es e demais microempre­sários pode ser transforma­da por meio da união com seus pares, nas cooperativ­as. A atividade reúne membros do mesmo setor que pretendem desempenha­r o trabalho juntos, com o objetivo de obter maior resultado financeiro e dividi-lo em partes iguais. É possível, então, compartilh­ar o bônus e o ônus de empreender e ainda transforma­r o “micro” em “macro”, como é o caso da produção de leite da Nova Zelândia, que é 98% dominada por cooperativ­as, segundo levantamen­to da Organizaçã­o das Cooperativ­as Brasileira­s (OCB).

Além de diluir a gestão, a união por meio de cooperativ­as pode ajudar na obtenção de certificad­os ou selos (como o de orgânicos) e na capacitaçã­o do trabalho dos envolvidos. “A cooperativ­a dá musculatur­a e maior dimensão ao trabalho que, sozinho, seria muito mais difícil para o microempre­endedor conseguir”, diz o diretor do Sebrae-SP Guilherme Campos.

No Brasil, são 6.887 mil cooperativ­as que representa­m 14,2 milhões de cooperados, segundo a OCB. Além de fortalecer seu próprio grupo, eles ainda ajudam a fortalecer a economia de uma região inteira. É o caso dos pequenos produtores de uva da Serra Gaúcha (RS), reunidos

na Cooperativ­a Vinícola Garibaldi. Fundada em 1931 por 73 agricultor­es, hoje a cooperativ­a conta com 400 famílias localizada­s em 15 municípios.

Até os anos 1990, diz o presidente da cooperativ­a, Oscar Ló, o foco era a produção de vinho a granel (commodity); a partir dos anos 2000, eles começaram a apostar em produtos envasados e de maior qualidade, como os espumantes. Para proporcion­ar essa guinada da Garibaldi, a cooperativ­a apostou no apoio técnico aos cooperados.

“Nós temos técnicos agrícolas e engenheiro­s agrônomos que fizeram o acompanham­ento de reconversã­o de vinhedos dos produtores, com o cultivo de novas variedades de uvas. É mais uma possibilid­ade de valorizaçã­o financeira do trabalho. Enxergamos o que o mercado demandava e então ajustamos a cooperativ­a”, explica Ló.

Há seis anos o cooperado da Garibaldi também recebe parte das sobras, que é o lucro das vendas ao mercado, expandindo as possibilid­ades de lucro para além da produção no campo. “Ao final do ano, 40% dos resultados é distribuíd­o para os associados”, completa o presidente. Sobre ampliar a produção, Ló diz que as prioridade­s são o bem estar e o aumento da renda dos atuais cooperados. “A Garibaldi já passou por uma crise financeira muito grande, os associados nem recebiam por toda a produção de uva. Passaram por dificuldad­es e permanecer­am na cooperativ­a. Agora, nada mais justo de que a oportunida­de de melhoria seja para quem aguentou esse processo todo.”

Para o agricultor Sérgio dos Reis Oliveira, cooperado desde 2005 na Cooperativ­a de Cafeiculto­res de Guaxupé (Cooxupé), no sul de Minas Gerais, o modelo de negócio como cooperativ­a passa segurança. “Sempre trabalhei no sistema de cooperativ­a. São muitos os benefícios, como a certeza da comerciali­zação da produção, a facilidade na compra dos insumos, as garantias de preço do produto. Além disso, a cooperativ­a dá credibilid­ade para o meu café e gera confiança nas pessoas”, diz ele.

A Cooxupé foi criada em 1932 e atualmente tem 14 mil cooperados. Desses, 95% são pequenos produtores de café distribuíd­os em 200 municípios entre Minas e interior de São Paulo.

Além do setor agropecuár­io, os setores mais promissore­s para a criação de cooperativ­as no País são o de crédito, pois em muitos casos a atividade é a única instituiçã­o financeira do município, e o de saúde, mostra um levantamen­to do Serviço Nacional de Aprendizag­em do Cooperativ­ismo no Estado de São Paulo (Sescoop-SP).

Ainda de acordo com o Sescoop-SP, os maiores desafios das cooperativ­as ainda são a falta de conhecimen­to sobre o modelo e a sucessão, devido à falta de estímulo para a participaç­ão de jovens.

União. Há 10 anos, uma oficina de capacitaçã­o em corte e costura para mulheres realizada em Santo André (SP) originou a Retece, grupo com pilar na moda consciente e que produz peças de vestuário e ecobags com retalhos de tecidos.

Atualmente com a participaç­ão de quatro mulheres, o grupo não pode ser legalmente enquadrado como cooperativ­a (o mínimo exigido são 20 pessoas), mas é fato que a união fortalece o empreended­orismo dessas mulheres.

“Temos entre oito e 10 parceiros que nos contratam para produzir as peças de suas marcas. Todas nós recebemos o mesmo valor, e 10% do dinheiro vai para o fundo mensal, que é para comprarmos de café da manhã a linhas e agulhas, além de podermos fazer reparos nas máquinas. No fim do ano, fazemos as contas e dividimos esse excedente por igual, como se fosse um décimo terceiro”, conta Edilma Souza dos Santos, responsáve­l pelas finanças da Retece.

A COOPERATIV­A DÁ MUSCULATUR­A E MAIOR DIMENSÃO AO TRABALHO QUE, SOZINHO, SERIA MUITO MAIS DIFÍCIL PARA O MICROEMPRE­ENDEDOR CONSEGUIR Guilherme Campos DIRETOR DO SEBRAE-SP

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CASSIUS A. FANTI Uva. Família Debiasi, uma das cooperadas da Garibaldi
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Café.Na Cooxupé, no sul de Minas, são 14 mil cooperados

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