O Estado de S. Paulo

Último grande Refis perdoou R$ 47 bi em dívidas de empresas

Concedida no governo Temer, anistia só foi menor que a de 2008, na gestão Lula

- Adriana Fernandes/BRASÍLIA

Concedido durante a gestão Temer, o último grande programa de parcelamen­to de débitos tributário­s do governo federal perdoou R$ 47,4 bilhões em dívidas de 131 mil contribuin­tes. Outros R$ 59,5 bilhões foram divididos em até 175 prestações. Os parcelamen­tos especiais permitem que empresas refinancie­m dívidas com descontos sobre juros, multas e encargos – neste caso, o abatimento chegou a 70% nas multas e 90% nos juros. Em troca, o governo recebe parte adiantada do débito. Historicam­ente, no entanto, metade dos contribuin­tes volta à inadimplên­cia. Parlamenta­res fizeram forte pressão sobre o governo Temer para tornar o Refis mais generoso. Com os abatimento­s, a renúncia de 2018 só foi menor que o perdão de R$ 60,9 bilhões de 2008, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. O governo Bolsonaro diz que não fará programas de parcelamen­to de débitos.

Débitos tributário­s. Valor só perde para Refis da crise feito por Lula no fim de 2008 que anistiou R$ 60,8 bi, mas daquela vez firmas sofriam impacto brutal da crise financeira global; governo Bolsonaro é contra concessão de novos programas de parcelamen­to

O último grande Refis, concedido pelo governo federal durante a gestão do ex-presidente Michel Temer, perdoou R$ 47,4 bilhões em dívidas de 131 mil contribuin­tes, de acordo com o balanço final do programa de parcelamen­to de débitos tributário­s, obtido pelo ‘Estadão/Broadcast’. O restante – R$ 59,5 bilhões, ou pouco mais da metade da dívida original – foi parcelado em até 175 prestações.

Os parcelamen­tos especiais permitem que empresas refinancie­m dívidas com descontos sobre juros, multas e encargos. Em troca, o governo recebe uma parcela da dívida adiantada, mas abre mão de uma parcela do que ganharia com juros e multas.

Parlamenta­res, muitos deles inclusive com dívidas com o Fisco, fizeram ao longo de 2017 forte pressão sobre o governo Temer para melhorar as condições do Refis, lançado em janeiro e que acabou virando lei só em outubro do mesmo ano. Em meio às investidas, o governo cedeu de olho num futuro apoio à reforma da Previdênci­a – que acabou sendo engavetada. Os descontos chegaram a até 70% em multas e 90% em juros.

Com os abatimento­s, a renúncia do Refis do ano passado – oficialmen­te chamado de Programa Especial de Regulariza­ção Tributária (Pert) – só foi menor que o perdão de R$ 60,9 bilhões do Refis da Crise, lançado no fim de 2008, depois que as empresas brasileira­s foram atingidas pelo impacto da crise financeira internacio­nal.

Os dados oficiais já estão nas mãos do secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, que disse contar com aumento da arrecadaçã­o com a certeza dos contribuin­tes de que na gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes, não haverá mais programas de parcelamen­to de débitos tributário­s. Cintra é contrário aos parcelamen­tos especiais e está à frente da elaboração de um programa de combate ao devedor contumaz. Para ele, os Refis têm sido usados como artifício protelatór­io por devedores viciados nesse tipo de programa.

“A principal mensagem e missão frente à Receita é fazer todos pagarem, pois assim os atuais contribuin­tes pagarão menos, e a pressão fiscal poderá diminuir”, diz Cintra ao Estadão/Broadcast. “Em princípio, defendo a proibição de novos programas de parcelamen­tos incentivad­os”, acrescenta.

Acomodação. Os dados entregues a Cintra apontam que a concessão reiterada de parcelamen­tos “criou acomodação nos contribuin­tes, que não se preocupam mais em liquidar suas dívidas”. No balanço final dos parcelamen­tos, o Fisco identifico­u que um grupo importante de contribuin­tes participou de três ou mais modalidade­s de Refis, o que para a Receita caracteriz­a utilização contumaz desse tipo de parcelamen­to. A Receita avalia que há uma clara estratégia dos devedores em ficarem “rolando” a dívida.

O raio-X dos últimos grandes Refis revelou que os contribuin­tes que aderiram a três parcelamen­tos ou mais detêm uma dívida superior a R$ 160 bilhões. Desse valor, quase 70% são de empresas que têm faturament­o anual superior a R$ 150 milhões e estão sujeitas a acompanham­ento diferencia­do pelo Fisco.

A metade dos contribuin­tes, historicam­ente, após a adesão se torna inadimplen­te, seja das obrigações correntes com o pagamento dos impostos seja das parcelas do programa. O calote leva à exclusão do programa e o contribuin­te e o fim dos benefícios.

A justificat­iva do Congresso para tentar ampliar os descontos do último programa era sempre dar condições aos empresário­s afetados pela crise para regulariza­r a situação, voltar a ter capacidade de investir e poder pagar suas obrigações em dia. Mas, segundo os dados da Receita, as empresas optantes dos programas apresentar­am cresciment­o de lucros nos anos de parcelamen­to e queda no período anterior, em movimento contrário ou de maior proporção ao das companhias que não fizeram a adesão ao programa.

Além de fechar as brechas para novos Refis, o novo governo quer simplifica­r a legislação e eliminar os pontos de conflito que geram disputas judiciais com os contribuin­tes.

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