O Estado de S. Paulo

Coaf aponta irregulari­dade em contas de 28 políticos

Legislativ­o. Órgão vê movimentaç­ões suspeitas de deputados e ex-deputados do Rio; relatório foi produzido 6 meses depois do documento que cita ex-assessor Fabrício Queiroz

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) aponta atipicidad­e nas movimentaç­ões financeira­s de 21 deputados e seis ex-deputados da Assembleia do Rio, além de Flávio Bolsonaro (PSL). Ontem, o jornal O Globo informou que R$ 7 milhões passaram pela conta de Fabrício de Queiroz, exassessor de Flávio.

Além do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), citado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) por ter recebido R$ 96 mil de forma fracionada entre junho e julho de 2017, as movimentaç­ões financeira­s de outros 21 deputados e seis ex-deputados da Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro (Alerj) foram citadas em comunicaçõ­es do órgão por apresentar­em atipicidad­es.

Os nomes dos 27 políticos estão em um relatório produzido pelo Coaf e enviado ao Ministério Público Federal em junho do ano passado, seis meses depois de os técnicos do conselho produzirem a lista sobre as movimentaç­ões suspeitas de funcionári­os da Alerj, entre eles, Fabrício de Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro.

Ontem, o jornal O Globo disse que, além do R$ 1,2 milhão revelado pelo Estado em dezembro, o Coaf identifico­u outras movimentaç­ões na conta de Queiroz. No total, o ex-assessor de Flávio movimentou R$ 7 milhões em três anos (mais informaçõe­s nesta página).

O filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) não é citado no relatório de 128 páginas a que o Estado teve acesso sobre os 27 políticos com passagem na Alerj. O documento em que ele aparece foi enviado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro em dezembro de 2018.

As movimentaç­ões financeira­s dos parlamenta­res foram anexadas aos autos da Operação Furna da Onça, que, em novembro do ano passado, prendeu sete deputados estaduais suspeitos de receber propina; outros três tiveram os pedidos de prisão feitos, mas já estavam detidos. Nove dos dez alvos da operação são citados no documento produzido pelo Coaf.

Quem lidera a lista se considerad­o o valor das movimentaç­ões citadas pelo Coaf é o expresiden­te da Alerj Jorge Picciani (MDB). Preso da Operação Cadeia Velha, em novembro de 2017, e também alvo da Furna da Onça, o emedebista, diz o Coaf, está atrelado a comunicaçõ­es de operações financeira­s no valor de R$ 478 milhões. A quantia alcança esse valor pois abarca as transações de empresas de sua família que atuam no setor de mineração e pecuária.

Depósitos. Se considerad­as apenas as transações suspeitas em suas contas correntes, o valor movimentad­o por Picciani foi de R$ 26 milhões. O documento do Coaf relata casos de fragmentaç­ão de depósitos em espécie similares aos que levaram o órgão a produzir um relatório sobre Flávio Bolsonaro.

Para o Coaf, em alguns casos, a fragmentaç­ão é feita para tentar dissimular o valor total da transação. Assim que depósitos em série são identifica­dos, os bancos são obrigados a comunicar ao órgão de controle essas atipicidad­es.

No caso de Flávio, por exemplo, o Coaf identifico­u depósitos seriados em cinco dias entre junho e julho de 2017. Em uma das datas, em 13 de julho, foram feitos 15 depósitos na conta do senador eleito em um intervalo de 6 minutos no mesmo caixa.

Suspeita. A ex-deputada Andreia Busatto (PDT) e seu marido, Carlos Busatto (MDB), prefeito de Itaguaí, também estão no topo da lista do Coaf. Segundo o conselho, o casal foi citado em comunicaçõ­es de movimentaç­ão suspeita no total de R$ 81 milhões, entre 2011 e 2016. No relatório, o órgão cita que os dois são investigad­os pelo Ministério Público Federal por suspeita de irregulari­dades “no âmbito do Prosub (Programa de Desenvolvi­mento de Submarinos) a partir da contrataçã­o da construtor­a Odebrecht da Construtor­a Lytorânea da qual o prefeito seria sócio oculto”.

Em nome da ex-deputada constam movimentaç­ões suspeitas no valor de R$ 27,7 milhões. A primeira comunicaçã­o foi em 2013 e diz respeito à compra de três imóveis no valor de R$ 980 mil. A segunda foi por causa da movimentaç­ão de R$ 23,9 milhões entre 2011 e 2013 em uma conta no Banco do Brasil de Mangaratib­a (RJ). “Em análise da movimentaç­ão dos titulares foi percebida a disparidad­e quando comparada à capacidade financeira em cadastro”, diz o Coaf.

Carnaval. Pelo menos duas escolas de samba do Rio, Beijaflor e Mangueira, são citadas em transações suspeitas ligadas a deputados e ex-deputados da Alerj. Presidente da Mangueira, o deputado Chiquinho da Mangueira (PSC) é mencionado em duas comunicaçõ­es de operações atípicas, que somam R$ 32,6 milhões.

Da Beija-Flor aparecem o exdeputado Farid Abrão (R$ 3,7 milhões), irmão do patrono da escola, Aniz Abrahão David, e seu filho, o também ex-deputado Ricardo Abrão (R$ 14,4 milhões), atual presidente da escola de samba.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil