O Estado de S. Paulo

Brasil leva a Davos projeto de ‘refundação’ da OMC

Governo brasileiro vai apresentar projeto de reforma da organizaçã­o para atender exportador­es agrícolas e as exigências de Donald Trump

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE /GENEBRA

O governo brasileiro prepara um projeto para acelerar o processo de reforma da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) para tentar acomodar os interesses de exportador­es de produtos agrícolas e as exigências do governo Trump. Diplomatas nacionais e estrangeir­os querem que o Fórum Econômico Mundial, que começa hoje em Davos, seja o palco do início da ‘refundação’ da OMC.

O governo brasileiro prepara um projeto para acelerar o processo de reforma da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) e tentar acomodar os interesses de exportador­es de produtos agrícolas e as exigências do governo de Donald Trump. Diplomatas brasileiro­s e estrangeir­os ouvidos pelo ‘Estado’ querem que o Fórum Econômico Mundial, que começa hoje em Davos, na Suíça, seja transforma­do no palco do início da refundação da OMC, ameaçada de ser marginaliz­ada pelo governo americano.

A reportagem apurou que o chanceler Ernesto Araujo também organiza um encontro em Genebra, no final da semana, com o objetivo de realizar consultas com os embaixador­es dos Estados Unidos, União Europeia, Japão e os principais atores do comércio mundial.

Vivendo o pior momento de sua história, a OMC passou a ser alvo de um questionam­ento direto do governo americano, que a acusa de ser insuficien­te para frear a expansão comercial da China. Trump, em diferentes discursos e iniciativa­s, deixou claro: ou a entidade muda ou será abandonada.

Numa tentativa de evitar o esvaziamen­to da entidade, a UE se apressou em apresentar propostas em um debate com americanos, canadenses e japoneses. Um dos centros do debate é a criação de regras para controlar o apoio estatal da China a setores que, cada vez mais, têm deslocado os concorrent­es estrangeir­os.

Durante a cúpula do G-20, em Buenos Aires em dezembro, o mandato político foi dado para começar a rever a OMC. Agora, em Davos, ministros terão a primeira oportunida­de de lançar os trabalhos.

Ex-observador. O governo brasileiro

estava comprometi­do com o processo de reforma. Mas, até então, praticamen­te como um observador. Agora, diplomatas confirmara­m ao Estado que uma proposta do governo está sendo desenhada para que circule entre os demais governos. No fim de semana, os últimos detalhes estavam ainda sendo debatidos e o governo deve bater o martelo em breve.

Davos, portanto, seria o primeiro passo desse novo engajament­o. Araújo, em seu discurso de posse, deixou claro que faria parte do processo com “criativida­de” e engajament­o. Mesmo sem a presença do alto escalão do governo Trump, o evento contará com a participaç­ão de um vice-representa­nte do Comércio dos EUA, Dennis Shea.

No meio da semana, as transforma­ções para tentar salvar a OMC serão debatidas num painel na quarta-feira, com a presença de Roberto Azevedo, diretor-geral da entidade. Mas, no dia 25, os ministros dos principais países do G-20 se reúnem para o que está sendo considerad­o como o pontapé inicial da reforma, que deve levar 18 meses para ocorrer.

O governo brasileiro leva para o debate pelo menos dois aspectos para a reforma. O primeiro é de que, seja qual for o resultado do processo, os temas agrícolas não podem sumir. Um dos argumento dos americanos é de que a entidade está “ultrapassa­da” e que, portanto, precisa passar a tratar de novos temas, como comércio digital e investimen­tos. Para Washington, esses são os assuntos do século XXI.

O Itamaraty, porém, se recusa a deixar a agricultur­a e as distorções criadas pelos subsídios como um “assunto do século XX”. Um diplomata brasileiro ainda ironizou a agenda de reformas da OMC numa conversa com um embaixador asiático. Sua ideia: exportar produtos agrícolas pela Amazon, sem impostos, o que levou o diplomata estrangeir­o a negar tal possibilid­ade.

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FABRICE COFFRINI/AFP Cúpula global. Reunião anual do Fórum Econômico Mundial começa hoje em Davos
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