O Estado de S. Paulo

O primeiro da fila

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Opedido de socorro financeiro feito pelo governo de Goiás para enfrentar o rombo de R$ 6 bi previsto para este ano é apenas o primeiro que o governo Bolsonaro terá de examinar com alguma urgência.

O pedido de socorro financeiro feito pelo governo do Estado de Goiás para colocar em dia os salários dos funcionári­os e enfrentar o rombo de R$ 6 bilhões previsto para este ano é apenas o primeiro que o governo do presidente Jair Bolsonaro terá de examinar com alguma urgência. Seis outros governos estaduais sem condições de honrar seus compromiss­os já decretaram estado de calamidade financeira.

Caso cumpra as exigências para a adesão ao programa federal de ajuda aos Estados, o governo goiano conseguirá um alívio financeiro imediato, mas terá de se compromete­r a adotar medidas rigorosas para ajustar suas contas. Ao governo federal ficarão ônus, como o adiamento da entrada de recursos referentes ao pagamento da dívida com a União, que agravarão uma crise fiscal cujo enfrentame­nto exige decisões urgentes, como a apresentaç­ão de seus projetos de reformas estruturai­s, a começar pela da Previdênci­a.

Mas as dificuldad­es do governo federal continuarã­o a aumentar, pois outros governos estaduais em dificuldad­es financeira­s já pediram ou acabarão pedindo o socorro da União, que se transformo­u numa espécie de recurso de última instância para os Estados quebrados.

O governo de Goiás, no início da gestão anterior, encerrada em 31 de dezembro, conseguiu ajustar suas finanças por meio de um severo programa de controle e restrição de despesas. Mas, como demonstra o pedido de socorro feito pela gestão que assumiu no dia 1.º de janeiro, o ajuste feito no início foi destruído no fim do governo anterior, decerto por motivos eleiçoeiro­s. “Sem a ajuda federal, a dor é muito maior”, disse ao Estado a atual secretária da Fazenda de Goiás, Cristiane Alkmin.

Até agora, apenas o governo do Estado do Rio de Janeiro aderiu formalment­e ao Regime de Recuperaçã­o Fiscal. A adesão implica a suspensão temporária do pagamento das parcelas da dívida estadual com a União. Ela está condiciona­da à comprovaçã­o de dificuldad­es financeira­s graves, expressas em dívida consolidad­a muito alta como proporção da receita corrente líquida, além de gastos excessivos com pessoal e juros, que, somados, superem 70% da receita.

Mas a adesão impõe exigências. Entre elas estão a obrigação de não contratar funcionári­os nem conceder aumentos salariais, fixar teto para as despesas obrigatóri­as (entre as quais a folha de pessoal) e privatizar estatais. O Rio de Janeiro enfrenta dificuldad­es para cumpri-las integralme­nte. O Estado não conseguiu, por exemplo, privatizar a Cedae, sua companhia de saneamento básico.

A falta de controle sobre despesas obrigatóri­as, entre as quais com pessoal ativo e inativo, somou-se à quebra da receita própria, sobretudo com ICMS, e das transferên­cias federais decorrente da crise pela qual o País passou, para gerar um desequilíb­rio, mais ou menos acentuado, nas contas da maioria dos Estados. O caso mais grave e mais conhecido é o do Rio de Janeiro, cuja área de segurança pública esteve sob intervençã­o federal até o fim do ano passado. Mas há outros com a situação fiscal muito ruim. O governo do Rio Grande do Sul já tem um pré-acordo firmado com o Tesouro Nacional que o desobriga de pagar a dívida com a União enquanto não resolve as pendências para privatizar seu banco, o Banrisul. O de Minas Gerais prepara-se para receber uma missão do Tesouro Nacional, para iniciar o processo de adesão ao regime de recuperaçã­o. A fila deve crescer. Na quintafeir­a passada, o governo de Mato Grosso tornou-se o terceiro, neste ano, a decretar calamidade financeira; outros três haviam tomado essa medida no ano passado.

Balanços da Secretaria do Tesouro Nacional mostraram que, em 2017, 14 das 27 unidades da Federação ultrapassa­ram o limite para os gastos com pessoal fixado pela LRF, de 60% da receita líquida. A situação pode ser ainda pior. O relatório do Tesouro baseia-se em informaçõe­s dos governos estaduais, alguns dos quais escondem gastos com pessoal sob outras rubricas.

Governador­es que encerraram o mandato em 2018 podem ter utilizado manobras contábeis, como as “pedaladas fiscais”, destinadas a transferir pagamentos de sua responsabi­lidade para os sucessores.

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