O Estado de S. Paulo

Igreja tem de pagar R$12 mi por abuso sexual, diz TV

Indenizaçã­o foi determinad­a pelo Tribunal do Trabalho da Paraíba, de acordo com reportagem; à Justiça, acusados negaram crimes

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A Justiça do Trabalhou condenou Arquidioce­se da Paraíba a pagar R$ 12 milhões de indenizaçã­o por exploração sexual cometida por padres contra crianças e adolescent­es, segundo reportagem do programa Fantástico, veiculada ontem, da TV Globo. Na Justiça, os envolvidos negaram os crimes.

“Foi apurado que havia um grupo de sacerdotes, de forma habitual, que pagava por sexo a flanelinha­s, coroinhas e também a seminarist­as”, afirmou o procurador Eduardo Varandas, ao Fantástico. Quatro padres da Basílica Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa, teriam tido relações sexuais com os adolescent­es, segundo a TV.

O Estado procurou ontem a Arquidioce­se e o Ministério Público da Paraíba ontem, mas não conseguiu contato. À TV, dom Aldo Pagotto, que estava à frente da arquidioce­se na época da denúncia, disse que não participar­ia desse tipo de reportagem e que os padres acusados já haviam sido inocentado­s na Justiça Criminal. A reportagem afirma que esse inquérito, na realidade, foi arquivado. Dom Aldo deixou a arquidioce­se local em 2016.

O pagamento aos jovens explorados seria feito em dinheiro e até em comida, segundo a denúncia. “A caracterís­tica da exploração sexual é ausência da vontade livre para praticar o ato”, disse Varandas.

Um ex-seminarist­a afirmou à TV ter sido explorado pelos sacerdotes. “(Havia) abuso sexuais por parte dos padres e de seminarist­as. Através de palavras, de atos, pegavam nas minhas partes sexuais”, declarou a vítima ao Fantástico. Na época, ele tinha 17 anos. “A palavra de ordem seria: ‘passando por esse processo você vai conseguir chegar a ser padre’.”

Em depoimento para o Ministério Público do Trabalho, segundo a reportagem, um ex-funcionári­o da Catedral disse que um dos padres “levava coroinhas e outros meninos, todos menores de idade, para dormir com ele nos quartos que ficavam atrás da Igreja”.

Um dos jovens que guardava carros na frente da Igreja declarou à Justiça ter tido relação sexual com um padre da arquidioce­se. O flanelinha foi assassinad­o em dezembro de 2016 – segundo a Polícia Civil da Paraíba, não haveria indícios de queima de arquivo. Ainda de acordo com o ex-funcionári­o, que trabalhou por 30 anos na Basílica, outro padre levaria “meninos para casa dele”.

As investigaç­ões de abuso começaram após o vazamento de uma carta que denunciava casos na Igreja em 2014. Um inquérito criminal contra os sacerdotes foi arquivado. Ao programa, o Ministério Público disse que havia elementos para a denúncia, mas que os crimes já haviam prescrito. O processo, porém, seguiu na Justiça do Trabalho. Para a sentença, foi fixado o valor de R$ 1 milhão de indenizaçã­o para cada ano de dom Aldo à frente da Arquidioce­se, segundo a reportagem.

O valor será destinado para fundos da infância e da adolescênc­ia e instituiçõ­es que trabalham com jovens explorados.

Outras condenaçõe­s. Em 2013, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a Mitra Diocesana de Umuarama (PR)deveria pagar indenizaçã­o de R$ 100 mil a um menino abusado por um padre. O crime, confessado pelo sacerdote, aconteceu em 2002, quando a vítima tinha 14 anos.

A maior indenizaçã­o do tipo já paga pela Igreja Católica é da Arquidioce­se de Los Angeles, nos Estados Unidos. O valor foi de US$ 660 milhões (R$ 2,47 bilhões, em valores atuais) pagos a 608 vítimas em 2007. Nos últimos anos, a Igreja Católica tem enfrentado uma série de escândalos de denúncias de abuso sexual em vários países.

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PREFEITURA DE JOAO PESSOA Denúncia. Padres teriam pago para ter relações sexuais com coroinhas e seminarist­as

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