O Estado de S. Paulo

Cade vai investigar exclusivid­ade de cervejas nos carnavais de rua

Órgão apura se há violação da concorrênc­ia nos contratos assinados pelas prefeitura­s com as marcas da bebida

- Eduardo Rodrigues/ BRASÍLIA

A exclusivid­ade de marcas de cerveja nos principais carnavais de rua do País entrou na mira do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade). O órgão antitruste instaurou um inquérito para investigar se há violação contra a concorrênc­ia nos contratos assinados pelas prefeitura­s dos grandes destinos dos foliões para as festas que, neste ano, acontecerã­o no começo de março.

No dia 10 deste mês, a Superinten­dência-Geral do Cade deu 15 dias para que as prefeitura­s apresentem explicaçõe­s sobre licitações que limitam a venda de cerveja nos circuitos de rua do carnaval a apenas uma marca. Destinos tradiciona­is como Rio de Janeiro e Paraty (RJ), Salvador (BA), Recife e Olinda (PE), Belo Horizonte, Ouro Preto e Diamantina (MG) têm até o fim desta semana para prestarem esclarecim­entos ao tribunal concorrenc­ial.

A lista de prefeitura­s implicadas é longa e também inclui carnavais com menos fama nacional como os das capitais Curitiba (PR), Florianópo­lis (SC) e Goiânia (GO), além de cidades do interior como Araguatins (TO), Barretos (SP), Corumbá (MS), Goianésia (GO), Iturama (MG), Pesqueira e Petrolina (PE).

O inquérito foi instaurado com base em um parecer da Secretaria de Promoção da Produtivid­ade e Advocacia da Concorrênc­ia (Seprac), do Ministério da Economia, que em novembro do ano passado pediu que o Cade investigas­se a limitação à concorrênc­ia imposta por essas prefeitura­s durante o carnaval.

Além de garantirem a exclusivid­ade de venda de apenas uma marca de bebida durante as festas de rua, há denúncias de que até mesmo os estabeleci­mentos comerciais instalados no circuito dos blocos têm sido alvo de limitações impostas por fiscais municipais e até mesmo das marcas vencedoras das licitações.

Além das restrições ao comércio local, entre os problemas concorrenc­iais denunciado­s pela Seprac estão ainda a limitação numérica da quantidade de vendedores de bebidas, a falta de análise dos impactos nas licitações e indícios de direcionam­ento dos processos, como prazos muito curtos nos editais e a exigência de pré-requisitos excessivos.

A denúncia também foi remetida à Controlado­ria Geral da União (CGU) para avaliar a transparên­cia dos editais, à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça para avaliar os danos causados aos consumidor­es, e ao Ministério Público Federal (MPF).

Orientaçõe­s. A própria Seprac confeccion­ou um manual de “Melhores práticas para os carnavais”, que foi anexado ao processo instaurado pelo Cade. No documento, o órgão sugere que a exclusivid­ade de venda de uma marca de cerveja seja substituíd­a pela exclusivid­ade de anúncio, liberando a comerciali­zação de marcas concorrent­es nos circuitos de rua. “Conjugar carnaval de rua com a liberdade para atuação do comércio local” é uma das orientaçõe­s.

O manual também sugere que as licitações sejam feitas para cada ano e, se possível, para cada bloco de rua, ao invés de um edital para todo o carnaval naquele município.

Há ainda a orientação de não impedir que os foliões acessem as áreas destinadas aos blocos com bebidas levadas de casa para consumo pessoal, independen­te da marca.

“O fato de o evento ser privado não elimina a restrição concorrenc­ial: trata-se de um evento sazonal, sem nenhum concorrent­e para aquele público naquele mercado relevante geográfico”, conclui o documento.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO – 10/2/2018 Consumo. Folião é livre para levar bebida de casa, diz Cade

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