O Estado de S. Paulo

Costa a Costa abriu caminhos e propôs nova estética ao rap

- / G.S.

Componente ético do hip hop (intrinseca­mente ligado à produção estética), o fator “abrir caminhos” é familiar ao Costa a Costa. O grupo formado em 2005 em Fortaleza por Nego Gallo e Don L (e depois Junior D, Flip-Jay e Berg Mendes) marcou época ao oferecer uma alternativ­a ao rap nacional em 2007, momento de transição nas tendências do gênero, com a mixtape Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência de Costa a Costa.

Se antes o rap privilegia­va a narrativa em terceira pessoa (ou pelo menos contando histórias de terceiros), o Costa a Costa passou a falar do “eu”, propondo diálogos entre classes sociais, regiões do País e ritmos latinos.

“Surpreende­u (o sucesso da mixtape)”, diz Gallo. “A gente tinha um sentimento, vivendo em Fortaleza, de estar vivendo desafios de qualquer lugar. Conhecemos pessoas, a música chegou em lugares que nunca pensamos. E aí veio Hermano Vianna.”

O antropólog­o foi quem descobriu o grupo, segundo Gallo. Em um texto de 2007, Vianna cravava sobre o disco: “É – não tenho nenhuma dúvida – um dos documentos mais contundent­es, impression­antes e acachapant­es sobre a realidade brasileira contemporâ­nea (como se ler jornal não fosse suficiente...). É um Sobreviven­do no Inferno traduzido para o século 21 – e é preciso constatar: o inferno piorou muito.” Ele segue então analisando as 23 faixas da mixtape, que define como “uma mistura poderosa e violenta de hip hop (estilo bounce de Nova Orleans, ou crunk de Atlanta/Memphis) com brega (Sidney Magal!), salsa, Perez Prado, carimbó e reggaeton, quase tudo muito dançante mas sem perder o ar soturno jamais”.

Hoje, o disco é sempre lembrado nas discussões sobre a nova geração do rap vindo do Nordeste, de nomes como Baco Exu do Blues, Diomedes Chinaski, Vandal, e outros.

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