O Estado de S. Paulo

Mourão recebe militares e diz que vai ‘tocar de lado’

Em dia de presidente em exercício, vice relata ter recebido conselho de Bolsonaro: ‘prudência e caldo de galinha’

- Daniel Weterman / BRASÍLIA TRINDADE / COLABOROU NAIRA

No primeiro dia como presidente em exercício durante a viagem de Jair Bolsonaro a Davos, na Suíça, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, evitou assinar decretos ou receber ministros palacianos, mas não fugiu de entrevista­s à imprensa e intensific­ou reuniões com militares em seu gabinete.

Ao longo do dia, circularam pelo gabinete da Vice-Presidênci­a, no anexo II do Palácio do Planalto, pelo menos cinco militares, entre eles o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o porta-voz da Presidênci­a, Otávio Santana do Rêgo Barros. Além deles, Mourão recebeu os embaixador­es da Alemanha e da Tailândia no Brasil, Georg Witschel e Surasak Suparat, respectiva­mente, e o engenheiro da CSN Miguel Angelo da Gama Bentes.

Auxiliares de Mourão disseram que o vice já havia declarado que sua atuação no cargo seria discreta, como a de Marco Maciel, vice do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Primeiro general a assumir a Presidênci­a após a redemocrat­ização, Mourão evitou adotar um tom de sobreposiç­ão a Bolsonaro. “Sem marola, só tocando a bola para o lado”, disse. Mais tarde, relatou que recebeu uma recomendaç­ão do presidente diretament­e de Davos: “prudência e caldo de galinha”.

Enquanto estiver no exercício do cargo, Mourão não pretende receber ministros nem adiantar decisões de governo. Do Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, coordenou ontem mais uma reunião interminis­terial para discutir a Região Nordeste. Nenhuma medida, no entanto, foi anunciada.

Alemanha. O presidente em exercício também recebeu “alertas”. O embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, pediu que o governo brasileiro explique melhor suas intenções em relação a reformas e seus compromiss­os com os direitos humanos e contra mudanças climáticas.

“O que nós queremos é medir o novo governo segundo os atos, segundo os fatos, e não segundo os tuítes e as palavras durante a campanha”, disse Witschel, fazendo referência a falas de Bolsonaro. Mourão declarou que não é sua tarefa debater o assunto com o representa­nte da Alemanha no País.

Mourão viaja ao Rio para a passagem de comando do 2.º Regimento de Cavalaria de Guarda do Exército. À noite, de volta a Brasília, o presidente em exercício janta com dirigentes da Associação Brasileira da Infraestru­tura e Indústrias de Base. A entidade pretende levar as principais reivindica­ções do setor ao governo, entre elas uma ampla reforma no sistema de aposentado­rias e o avanço na agenda de privatizaç­ões.

Filho. Ainda ontem, a Comissão de Ética da Presidênci­a da República rejeitou, liminarmen­te, denúncia do PSOL contra a promoção de Antônio Rossell Mourão, filho do vice-presidente. Rossell Mourão se tornou assessor especial da presidênci­a do Banco do Brasil, o que foi alvo de questionam­entos.

O colegiado entendeu que o caso de Rossell Mourão não se enquadra na súmula vinculante 13 (que veda nepotismo) porque ele é concursado há 18 anos e “preenche os requisitos” para o cargo, segundo conselheir­os da Comissão de Ética.

Há 11 dias, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, pediu que a promoção do filho de Mourão fosse revogada, sob alegação de que tal nomeação feria princípios que devem orientar a administra­ção pública.

Como assessor especial do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, o salário de Rossell Mourão triplicou: passou de R$ 12 mil para R$ 36,4 mil mensais.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Planalto. Enquanto estiver no exercício do cargo, Mourão não pretende receber ministros nem adiantar decisões de governo

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