GASTRONOMIA
Comidinhas para antes ou depois do estádio
Se no futebol a Inglaterra é respeitada, na gastronomia a coisa sempre foi mais controversa. Pelo menos essa era minha opinião até retornar ao país, depois de 10 anos. Talvez a geração de cênicos e midiáticos chefs como Gordon Ramsay, Nigella Lawson e Jamie Oliver tenha alguma responsabilidade. Para além da qualidade do futebol apresentado na Premier League, confesso ter ficado surpreso com o cuidado dado ao tema gastronomia.
Londres Por higiene, o clássico inglês fish’n chips (peixe com batatas fritas) já não pode ser mais servido em cones de folha de jornal, mas continua reinando absoluto. O Poppies (poppiesfishandchips.co.uk) vende ótimas lascas de bacalhau empanadas com batatas fritas a partir de 7,70 libras (R$ 37) em três endereços. O moderninho Hoi Polloi (hoi-polloi.co.uk) fica no térreo do Ace Hotel, no hypado bairro de Shoreditch, e serve uma elaborada terrine de coelho, pombo e bacon (9,50 libras ou R$ 46). A 10 minutos dali, o Old Spitafields Market é o ponto de partida diário para um bem montado tour gastronômico pela região do East End.
Para desbravar outros sabores, uma guia da Eating Europe o leva, ao longo de quatro horas, por sete restaurantes (80 libras ou R$ 391; eatingeurope.com). Do verdadeiro queijo cheddar, passando pelo melhor sanduíche de bacon de Londres, no St. John Bar & Restaurant (stjohnrestaurant.com), até o pudim de pão (bread and butter puding) do The English Restaurant (theenglishrestaurant.com).
Com potencial para virar um clássico londrino, o Berners Tavern (bernerstavern.com) é uma experiência notável no térreo do Edition Hotel (editionhotels.com). O salão com pé direito de oito metros de altura, coberto por ornamentos de estuque e paredes forradas por quadros contemporâneos com molduras de ares antigos, compõe um cenário de palacete surrealista. Ali, o chef Jason Atherton justifica sua estrela Michelin com iguarias como ovo de pato crocante com risoto de cevadinha e lascas de perna de pato (16 libras; R$ 77). Por outro lado, o Brown’s Hotel (roccofortehotels. com), aberto em 1837, inaugurou em 2015 o Beck’s at Browns. No elegante bairro de Mayfair, o chef Heros De Agostinis segue as diretrizes das três estrelas Michelin do chef Heinz Beck e serve um inesquecível fagotelli cremoso (22 libras; R$ 107), massa em formato de trouxinha com recheio explosivo e dominante de molho carbonara.
É inegável a força simbólica dos pubs na rotina britânica, e em Londres isso fica mais evidente. Há cinco anos na cidade, o gaúcho Rafael Maciel guia tours a pé (em português) por pubs antigos. No percurso de quatro horas, causos de 15 bares lendários, regados a ótimas cervejas (30 libras por pessoa ou R$ 146; guriinlondon.com/pub). Liverpool O Tap & Still (facebook.com/TapandStill), cervejaria artesanal e destilaria de gim, capricha na cozinha. Em pleno Baltic Triangle, o novo bairro cool da cidade, o espaço amplo serve uma sensacional perna de porco assada em baixa temperatura com crosta à pururuca (15 libras ou R$ 72). Embora a Indian pale ale (sem gás) seja o carro-chefe, a Love Lane English pale ale (5 libras ou R$ 24) foi a minha cerveja favorita da viagem. Manchester O Britons Protection foi cenário histórico da greve de 1819 contra a reforma parlamentar que terminou no Massacre de Peterloo. Desde 1806 no número 50 da Great Bridgewater Street, é famoso pela coleção de mais de 300 garrafas. E virou protagonista do filme
Peterloo, com estreia mundial prevista para novembro.
Já no Tast (tastcatala.com), da história que abre esta reportagem, o chef Paco Pérez arrisca em experimentações vegetarianas como o mil folhas de verduras e o arroz de verduras no forno. O peix&chips é um fish’n chips desconstruído, apresentado num prato surpreendente. Com sorte, você também poderá encontrar Pep Guardiola. Afinal, ele é um dos sócios.