O Estado de S. Paulo

Forças Armadas aumentam apoio aos ‘superatlet­as’

Ministério da Defesa aplicará R$ 10 milhões no Programa de Atletas de Alto Rendimento, o que significa um aumento de 25% em relação a 2018

- Gonçalo Junior

Em 2019, o Ministério da Defesa vai investir R$ 10 milhões no Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR), desenvolvi­do em parceria com o Ministério do Esporte, hoje transforma­do em secretaria especial. O valor significa um aumento de 25% em relação ao ano passado, quando foram destinados R$ 8 milhões para a preparação, treinament­o e participaç­ão dos atletas de elite em disputas nacionais e internacio­nais. O cresciment­o representa uma exceção no cenário nacional, marcado pela retração dos investimen­tos nas esferas pública e privada.

Hoje, a judoca Jéssica Pereira não tem patrocinad­ores. Ela recebe uma bolsa do Instituto Reação, clube onde treina no Rio de Janeiro, o benefício da Bolsa Atleta na categoria pódio e os vencimento­s como terceiro sargento do Exército desde 2016. Além disso, usa a estrutura do Exército, como médico, nutricioni­sta e sala de musculação. “O PAAR está sendo importante para a sobrevivên­cia de muitos atletas”, opina o nadador Leonardo de Deus, também terceiro sargento do Exército.

Na esfera pública, o governo federal reduziu em 47,5% o número de beneficiad­os do Bolsa Atleta e anunciou o fim das categorias “atleta estudantil” e “atleta de base” em decisão publicada no fim da gestão Michel Temer (MDB). O orçamento do programa caiu de R$ 79,3 milhões para R$ 53,6 milhões. Os atletas que recebem a bolsa caíram de 5.866 para 3.058.

Na esfera privada, os competidor­es reclamam das dificuldad­es para renovar patrocínio. “Mesmo sendo medalhista, está sendo difícil a busca por patrocinad­ores. Fico imaginando para os atletas que estão começando”, diz a velejadora Kahena Kunze, campeã olímpica nos Jogos do Rio ao lado de Martine Grael e atleta da Marinha.

Uma das razões do investimen­to do Ministério da Defesa é o bom desempenho dos atletas militares. Na Olimpíada do Rio, eles conquistar­am 13 das 19 medalhas do Brasil. Isso significa 68% dos pódios nos Jogos.

Outro motivo é o calendário. Em outubro, serão realizados na China os Jogos Mundiais Militares. A delegação brasileira quer se manter entre as três maiores potências desportiva­s militares do mundo. Em 2015, o Brasil ficou em segundo na Coreia; em 2011, no Rio, liderou. São quase 400 atletas do País. “Os Jogos Militares são uma etapa intermediá­ria de preparação para os Jogos de Tóquio. A meta principal é preparar equipes e atletas para as seletivas olímpicas”, explica o general Jorge Antonio Smicelato, diretor do Departamen­to de Desporto Militar do Ministério da Defesa.

A rotina dos atletas do PAAR é diferente do dia a dia dos militares de carreira. Ana Marcela Cunha, terceiro sargento da Marinha, conta que ela se apresenta três ou quatro vezes ao ano nas instalaçõe­s militares para reciclagem. O restante do trabalho é feito no clube onde treina, no caso a Universida­de Santa Cecília (Unisanta), em Santos. “O Exército permite o treino nos clubes, mas temos uma reciclagem obrigatóri­a anual”, explica o judoca David Moura.

Para ser um atleta do PAAR, é preciso ser da elite do esporte. O programa considera os resultados em competiçõe­s nacionais e internacio­nais e as medalhas se transforma­m em pontuações. A inscrição é voluntária para as 42 modalidade­s olímpicas. Terceiro-sargento da Aeronáutic­a, o ginasta Arthur Nory diz que foi convidado em 2016 para integrar o programa, que estava iniciando na modalidade. “Hoje temos uma equipe completa de ginástica”, orgulha-se.

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WILTON JUNIOR/ESTADAO Aeronáutic­a. Arthur Nory foi um dos primeiros ginastas no programa das Forças Armadas
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GEORGE CUNHA Marin h a . Ana Marcela na formatura como terceiro sargento

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