O Estado de S. Paulo

Montadoras receberam US$ 15 bi das sedes em 2018

- Cleide Silva

Matrizes enviaram socorro de US$ 15 bilhões (R$ 54 bilhões) para as montadoras no Brasil em 2018. O movimento é um termômetro da situação do setor, que diz operar com prejuízo desde o início da crise. Normalment­e, são as subsidiári­as que mandam dinheiro para as sedes. Em 2010, US$ 5,7 bilhões (R$ 20,5 bilhões) saíram do Brasil rumo às matrizes.

Ajuda. Cerca de US$ 10 bilhões vieram como empréstimo­s, que terão de ser honrados no futuro, e o restante por meio de injeção de capital – dinheiro a fundo perdido que tem sido usado não só para investimen­tos, mas também para pagar fornecedor­es e funcionári­os

Montadoras instaladas no Brasil receberam quase US$ 15 bilhões (R$ 54 bilhões) de suas matrizes no ano passado como suporte às operações locais. A maior parte veio como empréstimo­s que terão de ser devolvidos futurament­e, e outra parcela como injeção de capital, a fundo perdido.

O socorro recorde é um termômetro da situação financeira do setor, que afirma operar com prejuízos desde o início da crise econômica, quando as vendas de veículos despencara­m. A General Motors, uma das maiores montadoras no País, ameaça suspender investimen­tos locais se não retomar a lucrativid­ade ainda este ano.

A entrada desse dinheiro “é uma evidência de que as montadoras precisam de apoio das matrizes para as operações locais”, diz Letícia Costa, sócia da Prada Assessoria. Ao mesmo tempo, mostra que as companhias globais continuam interessad­as no Brasil e acreditam que as filiais voltarão a ser rentáveis, afirma Antonio Megale, presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea).

Nos anos de bonança, são as subsidiári­as que enviam dinheiro para as matrizes. Foi o que ocorreu, por exemplo, em 2010. Foram vendidos no período mais de 3,5 milhões de veículos e US$ 5,7 bilhões (R$ 20,5 bilhões) saíram do Brasil rumo às sedes internacio­nais. Em 2018, ano de retomada de vendas, mas de queda na exportação, as remessas de lucro foram de US$ 516 milhões (R$ 1,85 bilhão). Foi mais do que nos três anos anteriores, mas bem abaixo do registrado de 2010 a 2013 (ver quadro na pág. 4).

Do total recebido em 2018, US$ 9,98 bilhões (R$ 36 bilhões) foram empréstimo­s intercompa­nhias, normalment­e feitos a longo prazo e com juros menores que os brasileiro­s. Outros US$ 4,5 bilhões (R$ 16,2 bilhões) chegaram como investimen­to direto. O dinheiro tem sido usado não só em investimen­tos, mas para pagar fornecedor­es e funcionári­os.

“Esse movimento significa que as matrizes precisam mandar oxigênio para as filiais que estão morrendo afogadas”, diz o vice-presidente da Ford América do Sul, Rogelio Goldfarb. “As empresas não têm condições de se autossuste­ntarem.”

Segundo Megale, essa dificuldad­e é enfrentada pela maioria das empresas. A GM diz que perde dinheiro no País há três anos. Só em 2018 o prejuízo teria sido de R$ 1 bilhão (US$ 277 milhões), segundo fontes. A maioria das montadoras não divulga balanços no Brasil.

A GM negocia com empregados, fornecedor­es, revendedor­es e governos um plano de corte de custos. Se tiver a contribuiç­ão de todos, promete investir R$ 10 bilhões até 2024. Globalment­e, a GM passa por reestrutur­ação e fechará cinco fábricas nos EUA e Canadá e já encerrou operações na África do Sul, Austrália, Rússia, Venezuela e vendeu a unidade da Europa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil