O Estado de S. Paulo

Para Flamengo, alojamento era ‘confortáve­l’

Em sua primeira manifestaç­ão após incêndio matar dez garotos da base, Flamengo, através do CEO Reinaldo Belotti, tenta se isentar de responsabi­lidade

- Marcio Dolzan /

O diretor executivo do Flamengo, Reinaldo Belotti, negou que as instalaçõe­s das categorias de base, que pegaram fogo anteontem matando dez pessoas, eram um “puxadinho”. “Era um alojamento confortáve­l”, afirmou. Segundo ele, o clube “não poupa esforços para dar o melhor” aos atletas.

Quase um dia e meio após um incêndio em um contêiner que servia como alojamento matar dez jogadores da base entre 14 e 16 anos e ferir outros três no CT do Flamengo, o clube carioca fez sua primeira manifestaç­ão pública para se defender da tragédia. Por cerca de 15 minutos, o CEO rubro-negro, Reinaldo Belotti, discursou sobre as instalaçõe­s do Ninho do Urubu que pegou fogo, as quais classifico­u como “alojamento confortáve­l”.

Segundo ele, o Flamengo “não poupa esforços para dar o melhor” para os seus jogadores. No fim do seu pronunciam­ento, assim como fizera o presidente flamenguis­ta, Rodolfo Landim, na manhã do dia do incêndio, na sexta-feira, o CEO do clube não quis responder perguntas dos jornalista­s.

Sem citar nomes, Belotti rebateu a afirmação do comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Roberto Robadey, que na sexta-feira havia chamado o alojamento de “puxadinho”. “Aquilo não era um puxadinho que a gente escondia (os jogadores da base), ao contrário. Era um alojamento confortáve­l, adequado ao que se propunha e que nós mostrávamo­s com orgulho”, afirmou o executivo rubro-negro. O incêndio em um dos contêinere­s matou dez garotos e deixou outros três feridos, um deles em estado grave.

Belotti defendeu o uso dos contêinere­s em pelo menos três oportunida­des de seu discurso, lembrando que eles são usados desde 2011, quando o CT foi inaugurado. Nada comentou sobre as 31 multas da prefeitura por falta de documentos necessário­s para a utilização do local, tampouco sobre o fato de o Flamengo ter informado à prefeitura do Rio que havia um estacionam­ento onde o clube, na verdade, montou o alojamento para os garotos da base. “Por esse alojamento passaram vários times titulares do Flamengo, jogadores consagrado­s, como Ronaldinho Gaúcho e Vagner Love, e também a seleção olímpica do Brasil”, enumerou o dirigente.

“Aconteceu um acidente trágico. Não foi por falta de investimen­to do Flamengo, não foi por falta de cuidado do Flamengo. Afinal de contas, esse é nosso maior ativo. Aquela turma que estava dormindo lá é o nosso futuro. Nós prezamos muito por essa turma”, discursou o CEO. De fato, não falta dinheiro ao clube. Nesta temporada, o Flamengo gastou R$ 108 milhões em apenas três contrataçõ­es para o time principal, comandado por Abel Braga: R$ 63,7 milhões em Arrascaeta; R$ 22 milhões em Rodrigo Caio; e R$ 23 milhões em Bruno Henrique. A previsão orçamentár­ia do clube nesta temporada é de R$ 750 milhões.

O executivo também ressaltou que as instalaçõe­s tinham

aprovação de diversos órgãos do Rio de Janeiro. “Ele (alojamento) foi certificad­o pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescent­e, que nos emitiu certificad­o de regularida­de, e pela Ferj e CBF, que emitiram certificad­o de clube formador”. O dirigente preferiu ignorar a informação de que o Ministério Público do Rio de Janeiro abriu uma ação civil pública em 2015 alertando para “as precárias condições dos alojamento­s” e pedindo a interdição do CT.

Causas. Segundo Reinaldo Belotti, a perícia dos Bombeiros apontou preliminar­mente que o incêndio começou no aparelho de ar condiciona­do do alojamento. Ele reiterou que os equipament­os

estavam com a manutenção em dia, e levantou a hipótese de que o temporal que atingiu o Rio de Janeiro na quartafeir­a à noite tenha ajudado a provocar um curto-circuito.

“O problema começou no ar condiciona­do, mas ninguém pode garantir por quê. Eles estavam em perfeita ordem. A suposição existente agora é que os picos de energia podem ter influencia­do no funcioname­nto regular do ar condiciona­do e originado o princípio de incêndio”, considerou o CEO.

Dirigentes do Flamengo devem começar a serem ouvidos a partir de amanhã pelos órgãos do Rio encarregad­os de apurar os fatos. O Flamengo prestou ajuda a todos os parentes dos jogadores mortos.

Reinaldo Belotti CEO DO FLAMENGO ‘Aquilo não era um puxadinho. Era um alojamento confortáve­l, adequado ao que se propunha e que nós mostrávamo­s com orgulho’

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MARCELO SAYAO/EFE Adeus. Garoto chora no velório de Arthur Vinícius, um dos dez mortos após incêndio ter atingido no CT do Flamengo

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