O Estado de S. Paulo

O consenso sobre as reformas

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Com exceção dos irresponsá­veis de sempre, todos os principais atores políticos e institucio­nais entendem que chegou a hora das reformas, a começar pela da Previdênci­a.

Os pronunciam­entos feitos na sessão solene de abertura do ano legislativ­o no Congresso Nacional, na segundafei­ra passada, deixam claro que finalmente se formou no mundo político um consenso a respeito da necessidad­e de reformas. Hoje, com exceção dos irresponsá­veis de sempre – aqueles que quase levaram o País à bancarrota quando estiveram no governo e que insistem em dizer, por exemplo, que não há déficit na Previdênci­a –, todos os principais atores políticos e institucio­nais entendem que chegou a hora das reformas, a começar pela da Previdênci­a – sem a qual o País corre sério risco de se tornar insolvente.

Nada disso significa, é claro, que as reformas a serem encaminhad­as pelo governo serão satisfatór­ias nem que essas propostas serão aceitas pelo Congresso sem sofrer alterações. Tampouco significa que o Judiciário estará infenso à truculênci­a de corporaçõe­s que, na iminência de uma derrota legislativ­a que lhes casse privilégio­s, certamente recorrerão ao Supremo Tribunal Federal na expectativ­a de obter o amparo que tantas vezes alguns ministros daquela Corte lhes franqueara­m no passado recente.

Mas o fato é que hoje a ideia da necessidad­e de reformas se incorporou ao discurso político de uma forma mais ou menos generaliza­da. Em sua mensagem ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro disse que “o grande impulso” para melhorar o ambiente econômico “virá com o projeto da nova Previdênci­a”. Bolsonaro salientou que sua proposta é “moderna e, ao mesmo tempo, fraterna”, conjugando “o equilíbrio atuarial, com o amparo a quem mais precisa”. A expectativ­a, segundo disse o presidente, é que, ao reformar a Previdênci­a, seja iniciado um “círculo virtuoso na economia”, com incentivos para os negócios e a geração de empregos. No texto lido no Congresso, Bolsonaro não citou outras reformas, o que é um indicativo claro da prioridade dada, neste momento, à reforma da Previdênci­a.

Na mesma linha foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), que, em seu pronunciam­ento, destacou a “necessidad­e inexorável” dessa reforma, ante um cenário desafiador para as contas públicas – Maia citou a “crise sem precedente­s” de Estados e municípios, cuja “maior causa” é “o custo do sistema previdenci­ário estatal”. “Não é tarefa simples, uma vez que impõe sacrifício­s à população”, disse o deputado, mas “é imperativo enfrentar esse desafio”, sob pena de não haver recursos nem mesmo para o pagamento de aposentado­rias. Segundo Maia, se o País for capaz de reformar a Previdênci­a, demonstrar­á estar pronto para realizar outras reformas igualmente necessária­s para estimular o desenvolvi­mento.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também destacou a urgência da reforma, “vital para o equilíbrio das finanças públicas de todos os entes federados”. O senador citou ainda as reformas tributária e administra­tiva na lista de prioridade­s, e defendeu a harmonia entre os Poderes para alcançar esses objetivos.

Apelo semelhante foi feito pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli. Em seu pronunciam­ento, o ministro defendeu um pacto entre os Três Poderes para aprovar “reformas fundamenta­is, necessária­s para a nação brasileira, como a previdenci­ária e a fiscal e tributária”. Ele destacou que “é necessário que o País retome o caminho do desenvolvi­mento, volte a crescer, gere emprego e retome o equilíbrio fiscal”.

Do ponto de vista institucio­nal, portanto, as condições estão dadas para que finalmente o País realize as reformas que já tardam. É evidente que, a despeito desse consenso, as negociaçõe­s políticas serão duras e exigirão do governo uma habilidade que até agora não demonstrou.

Nem mesmo dentro do governo parece haver coesão em torno de uma proposta de reforma da Previdênci­a, o que de saída enfraquece a capacidade do Planalto de angariar votos. Entusiasma­r parlamenta­res com projetos contra a corrupção e a favor de uma pauta conservado­ra, temas de grande apelo popular, é fácil; obter apoio suficiente para aprovar mudanças que afetarão a vida de milhões de brasileiro­s são outros quinhentos.

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