O Estado de S. Paulo

General não leva polêmicas para casa

- Roberto Godoy

Ovice-presidente Hamilton Mourão, chamado de general pelo presidente Jair, fala o que quer – e pensa bastante. O jeito aguerrido e o jargão da caserna ficam reservados à composição do tipo marcial oferecido ao público. Aos 65 anos, em boa forma, na reserva do Exército desde fevereiro passado, Mourão teve boas experiênci­as na carreira militar. Morou em Washington, foi adido em Caracas, cumpriu o curso de Política e Alta Administra­ção, integrou a Missão de Paz da ONU em Angola, chefiou o Comando Militar do Sul e a Brigada de Infantaria de Selva, na Amazônia. Fluente em inglês, fala espanhol e é um leitor – ultimament­e esteve atracado com o livro Como as Democracia­s Morrem. O perfil intelectua­lizado não é, entretanto, de um moderado.

Mourão não leva polêmica para casa. Na campanha, sustentou teses como a da sociologia da família “fábrica de desajustad­os”, aquela em que os filhos crescem sem a presença do pai, e a possibilid­ade assustador­a de o presidente, sob o risco de um quadro de caos generaliza­do no País, desfechar “um autogolpe” de Estado, com apoio das Forças Armadas. Houve mais, e mais sério: coeleito com Jair e seus 58 milhões de votos, disse acreditar na edição de uma nova Constituiç­ão produzida por “notáveis”, nomeados para esse fim. Ainda assim, ao longo do tempo, o vice defende a obediência à norma constituci­onal. Na área de costumes e religião, a pauta é ampla, explosiva até, cobrindo desde o aborto, visto por ele como uma decisão pessoal da mulher, à mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém – da qual é crítico.

No círculo dos sete generais que estão no primeiro escalão da administra­ção Bolsonaro, o “amigo Mourão”, como se referiu a ele na sexta um desses oficiais, é visto como alinhado com o governo, embora tenha ideias próprias e nenhuma dificuldad­e em apresentá-las. “Não há ruído no Planalto, a linha de comando está afinada” afirma um ex-assessor de Mourão, lembrando que os “militares convocados” estão no governo “cumprindo missão”, são seguidores, “por formação”, da regra da disciplina e da hierarquia. E que o comandante em chefe é Jair Bolsonaro.

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