O Estado de S. Paulo

África é mercado atraente para tecnologia chinesa

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Os países da África têm sido o principal mercado de teste para as tecnologia­s de controle social da China. O Zimbábue adotou em abril uma das mais recentes tecnologia­s chinesas.

A CloudWalk Technology, uma startup com sede em Guangzhou, assinou um acordo com o governo para fornecer um programa de reconhecim­ento facial em massa que consegue computar em poucos segundos dados completos da vida de uma pessoa reconhecid­a por alguma câmera de segurança.

Tanzânia, Etiópia e África do Sul também usam o software. O acordo permite acesso a sistemas financeiro­s inteligent­es, segurança de aeroportos, ferrovias e rodoviária­s, além de um banco de dados facial nacional.

Assim como dezenas de outros acordos de cooperação com países africanos, os pactos com Tanzânia e Zimbábue foram firmados no âmbito do programa One Belt, One Road (“Um cinturão, uma rota”), o plano de investimen­to em massa da China em obras de infraestru­tura em 68 países.

Para especialis­tas, a China se beneficia da exportação de sua inteligênc­ia artificial não apenas em termos financeiro­s. Um estudo recente do Laboratóri­o de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts (MIT) testou a precisão de três importante­s fornecedor­es de software de reconhecim­ento facial: Microsoft, IBM e Megvii (uma empresa chinesa).

O estudo descobriu que, ao tentar identifica­r o sexo de uma pessoa a partir de uma imagem, a taxa de erro para homens de pele mais clara era inferior a 1%, enquanto para mulheres de pele mais escura era de até 35%. Isso ocorre porque a precisão da IA depende dos dados que são alimentado­s e, em todo o mundo, o reconhecim­ento facial tem sido treinado em rostos predominan­temente brancos e masculinos, mesmo dentro da China.

“Esse tipo de software precisa de um banco de dados e, ao exportar para países cuja população tem biotipo diferente do chinês, ela alarga seu banco de dados e permite que o programa tenha mais capacidade de reconhecim­ento”, afirma Tobias Burgers, professor da Universida­de Livre de Berlim e pesquisado­r de sistemas cibernétic­os na segurança e no conflito militar.

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