CRISE DE ANSIEDADE APÓS BUSCA NA WEB
Acostumada a consultar todo tipo de informação na internet, a atendente de loja Karina Leite, de 22 anos, já teve de ser levada às pressas a um pronto-socorro com crise de ansiedade, após consultar as supostas consequências de uma doença. A jovem conta que, aos 13 anos, foi diagnosticada com síndrome do ovário policístico. Na época, como era muito nova, a médica optou por não prescrever medicamentos e Karina não iniciou nenhum tratamento.
Aos 21 anos, com acesso mais fácil à internet, Karina decidiu pesquisar o que significava aquela condição. “Procurei no Google e achei sites falando que a doença não tinha cura e deixava a mulher infértil. Quando pensei que nunca poderia ter um filho, comecei a chorar muito e comecei a ter uma crise de ansiedade”, conta ela. “Eu tremia toda, me deu cãibra no corpo inteiro e sentia muita dor nas pernas”, diz ela.
A atendente foi levada pela mãe ao hospital, onde recebeu um medicamento calmante e apagou. Saiu de lá na manhã seguinte, assustada com o efeito de uma “simples busca na internet”. Meses depois, conseguiu uma consulta com uma especialista e foi informada que a síndrome tinha tratamento.
Embora esse tenha sido o episódio mais grave, Karina já passou por outras angústias ao verificar sintomas na internet. “Já pesquisei sobre dor de cabeça e falava que era tumor. Fiquei preocupada. Na época que tive a crise, acho que eu era meio cibercondríaca, sim, mas hoje tento não confiar em tudo que aparece na internet”, diz.
Para o psiquiatra Rodrigo Leite, coordenador dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a cibercondria é uma “nova roupagem” para transtornos já existentes, em que há excessiva preocupação com o corpo ou com o possível aparecimento de doenças. “Esse comportamento pode vir acompanhado de dependência de internet.”
De acordo com o médico, esse apelo a buscar respostas para questões de saúde na internet está relacionado, em alguns casos, à falta de confiança em profissionais de saúde. “A experiência do adoecimento traz muita insegurança e nem sempre o paciente tem garantia que será bem acolhido, por isso ele apela para a internet, para tentar se proteger, se informar, suprir um vazio”, diz Leite.
Ele ressalta que o uso exagerado da ferramenta é exceção e muitas pessoas têm benefícios ao ter mais acesso à informação. “Ao se informar, o paciente sai do papel de coadjuvante e assume, junto com o médico, a responsabilidade pelas decisões referentes à sua saúde.”