Garoto do Fla é enterrado no dia em que faria 15 anos
Familiares e amigos cantam ‘Parabéns pra você’ ao zagueiro Arthur Vinícius da Silva, uma das vitímas do incêndio
Ao som do hino do Flamengo, palmas e de ‘Parabéns pra você’, familiares e amigos enterraram ontem a primeira vítima do incêndio do alojamento do Ninho do Urubu. O cemitério Portal da Saudade, em Volta Redonda, a cerca de 120 km do Rio, ficou lotado de adolescentes aos prantos e trajados com camisas rubro-negras para se despedir do zagueiro Arthur Vinícius da Silva, que foi enterrado no dia em que completaria 15 anos.
O garoto foi uma das dez vítimas da tragédia de sexta-feira no CT do clube. Ele foi levado para sua cidade e mais de 500 pessoas foram ao seu velório. Estiveram presentes o governador do Rio, Wilson Witzel, e o prefeito da cidade, Samuca Silva, que mais cedo inauguraram
uma pista de atletismo e decidiram batizar a estrutura com o nome do garoto morto.
Arthur Vinícius deixaria o alojamento do clube na quinta para poder comemorar o aniversário, mas decidiu ficar um dia a
mais para participar de um jogo no Maracanã. “Como atleta, ele era ótimo. Nós, da família, estávamos preparando uma festa para ele. O Arthur vivia um sonho e tinha futuro”, disse o tio Anderson Pereira, o Andinho, ex-jogador do Volta Redonda.
O corpo chegou ao cemitério por volta das 14h e foi velado até 16h40. Amigos de escola e colegas do futebol, todos na faixa dos 15 anos, eram a maior parte do público no enterro. Devido ao forte calor, algumas pessoas chegaram a passar mal. Um dos mais comovidos era o atacante da base do Flamengo, Guilherme Quintino, de 16 anos, que conhecia Arthur havia sete anos. “A gente se conheceu em Volta Redonda. Depois ele foi morar com a minha família, lá no Rio. Ficou um ano em casa, até fazer 14 anos e poder se mudar para o alojamento do clube. A gente era só risada. Como sou filho único, o Arthur era um irmão”, disse Quintino, que contou ser o responsável por colocar nele o apelido de Bigode.
Bastante abalada, a mãe do garoto, Marília Silva, ficou o tempo todo ao lado do caixão, que foi pintado na cor branca e decorado com a foto do garoto. Na despedida, ela puxou o hino do Fla e se emocionou quando colegas de escola bateram palmas e cantaram para marcar a data que seria o seu 15.º aniversário.
“Meu filho morreu feliz porque vivia um sonho. Ele dizia que se sentia bem no Flamengo. Era onde ele queria jogar. Ele até fez teste no Atlético-MG, mas era flamenguista”, afirmou a mãe
O técnico de futsal Felipe Araújo treinou Arthur dos seis aos 13 anos e disse que ele era a esperança da família mudar de vida. “O pai foi assassinado anos atrás e a mãe não tinha condições de mantê-lo no Rio. Por isso, foi morar no CT e estava orgulhoso de ter conseguido esta chance. Pena que isso acabou por causar sua morte”, disse.
O pai de Arthur foi assassinado há dez anos, na sua frente.