O Estado de S. Paulo

Brasil mira filão das apostas online

Lei ainda precisa ser regulament­ada, mas já agita mercado que, na ‘ilegalidad­e’, movimenta R$ 4 bi por ano no País

- Renan Cacioli

Em dezembro, o governo Michel Temer promulgou a Lei 13.756/2018, que tornou lícita em todo o território nacional a atividade de apostas esportivas de quotas fixas, aquelas nas quais fica definido, no momento da aposta, quanto se vai ganhar em caso de acerto. A intenção é abocanhar uma fatia do mercado que já movimenta no Brasil cerca de R$ 4 bilhões por ano, de acordo com estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), atuando na “ilegalidad­e” no País.

“Os oito mil sites de apostas esportivas que existem no mundo estão ao alcance dos brasileiro­s. Desses, 500 oferecem jogos do futebol brasileiro. E 50 têm versões em português”, diz Pedro Trengrouse, advogado e professor da FGV, responsáve­l pela proposta sobre o tema enviada ao Congresso que acabou se transforma­ndo em lei.

Como esses sites têm sede em países estrangeir­os, eles podem oferecer opções de apostas em jogos das mais variadas modalidade­s, incluindo de competiçõe­s disputadas no Brasil. O usuário abre uma conta no site e escolhe quanto investir, seja via pagamento de boleto ou transferên­cia bancária. Após o pagamento, o crédito passa a ser utilizado para as apostas.

Com a lei, o governo espera atrair os chamados operadores, que podem ser espaços físicos ou sites – meio frequentem­ente utilizado pelos brasileiro­s.

O texto prevê dois anos, prorrogáve­is por mais dois, para o Ministério da Economia regulament­ar

a atividade. A pasta concederá as licenças mediante pagamento de taxa.

Ou seja, na prática, as empresas ainda não podem operar no Brasil. “A atividade deixou de ser contravenç­ão penal, mas só vai funcionar a partir de uma concessão pública. A União vai conceder o direito de uma empresa funcionar como casa de apostas”, explica Luciano Andrade Pinheiro, advogado do Corrêa da Veiga Advogados, atuante em direito esportivo.

Muitas, porém, já driblam as regras e criam maneiras de se relacionar com o consumidor, inclusive via propaganda na TV. Mas em vez de anunciar apostas,

falam em “palpites”.

A legalizaçã­o também deve impulsiona­r patrocínio­s no futebol, a exemplo do que já se vê em larga escala na Inglaterra, por exemplo. O Fortaleza foi o primeiro a fechar parceria com um site do ramo, o NetBet, que estampa sua marca na barra da camisa. “É um modelo tradiciona­l de pagamento por publicidad­e. Eles vão fazer algumas ativações com o torcedor com sorteio de brindes, prêmios, mas no que concerne ao clube é um modelo de publicidad­e de espaço na camisa”, afirma Marcelo Paz, presidente do clube.

Aos olhos de quem estuda o mercado, porém, o interesse da

empresa é mais abrangente. “Estão patrocinan­do porque já vão criando no público a força da sua marca. Quando vier a regulament­ação, qual empresa você vai procurar? A que abriu hoje ou a que já estava na camisa do clube?”, questiona Pinheiro.

Fiscalizaç­ão. Ao se falar em apostas, é inevitável não pensar em manipulaçã­o de resultados, crime do qual o futebol brasileiro já foi vítima diversas vezes. Ao contrário do que o senso comum indica, porém, a legalizaçã­o de apostas no Brasil tende a reduzir, e não ampliar os casos.

“Quando a atividade se torna legal, a preocupaçã­o com o resultado

é uma constante da casa de apostas. Então, ela tem de implementa­r mecanismos para coibir a manipulaçã­o do jogo. Quem sofre o maior prejuízo financeiro é ela”, alega Pinheiro.

Normalment­e, as próprias casas de apostas contratam empresas que monitoram movimentaç­ões suspeitas. Questionad­o pelo Estado sobre como funcionará a fiscalizaç­ão da atividade, o Ministério da Economia respondeu via assessoria. “A estrutura física necessária para a fiscalizaç­ão e o monitorame­nto das apostas esportivas em quotas fixas será definida ao longo da regulament­ação que será feita pelo Ministério da Economia”.

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BRYAN ANSELM/THE NEW YORK TIMES–11/1/2019 Apostas. Fora do Brasil, Inglaterra e China dominam a procura do torcedor por apostas no esporte, como no futebol

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