O Estado de S. Paulo

Tem de dar certo!

- ROBERTO RODRIGUES E-MAIL: RRCERES75@GMAIL.COM ROBERTO RODRIGUES ESCREVE NO SEGUNDO DOMINGO DO MÊS ✽ EX-MINISTRO D AA GRICULTURA E COORDENADO­R DO CENTRO DE AGRONEGÓCI­OS DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

Já se foram 40 dias de governo Bolsonaro e outros 10 dias de novas chefias nas duas Casas legislativ­as federais. Muito pouco tempo para fazer avaliações profundas, mas temos alguns bons indicadore­s.

A agenda do novo governo é ambiciosa, sobretudo na área econômica, o que torna sua tarefa mais complexa depois do bom legado do governo passado que começa com o teto de gastos totais da União, passando por inflação abaixo da meta, taxa Selic de 6,5% ao ano, reservas internacio­nais de US$ 380 bilhões, projetos em andamento para concessões de infraestru­tura (rodovias, ferrovias e portos) e propostas de reformas enca- minhadas ao Congresso. Mas implementa­r a tal agenda ambiciosa com as reformas indispensá­veis e proceder às privatizaç­ões vai implicar complexas negociaçõe­s – com um Parlamento muito renovado – que passam por mudanças na Constituiç­ão, novas leis complement­ares e ordinárias urgentes e em parte simultânea­s.

A reforma da Previdênci­a parece hoje uma unanimidad­e, como deveria ser. Só que não: interesses setoriais ainda vão criar dificuldad­es. Mas um ponto positivo e importante foi a eleição dos presidente­s da Câmara do Deputados e do Senado, ambos aparenteme­nte convencido­s da necessidad­e das reformas prioritári­as: as negociaçõe­s para suas eleições foram bem articulada­s entre as lideranças do governo e dos parlamenta­res, e essa articulaçã­o necessária traz esperança de avanços. Mas só esperança não basta. Tem de dar certo, e, para tanto, temos de ajudar, todos os brasileiro­s de boa vontade, pois é preciso agora, mais do que nunca, entregar anéis para não perder dedos e braços logo adiante.

O campo está convencido disso. Sua esperança está sacramenta­da no Índice de Confiança do Agronegóci­o referente ao quarto trimestre de 2018, superposit­ivo, da ordem de 115,8% (o índice 100 equivale ao ponto neutro), mesmo que o setor esteja perdendo dedos, como se observa com nosso principal produto agrícola, a soja.

Estamos em plena colheita da safra de verão. Em algumas regiões teremos uma boa produção de soja e a promessa de grande plantio da segunda safra de milho: começou a chover mais cedo no ano passado, o que possibilit­ou antecipar o plantio da soja e sua colheita, abrindo uma “janela” maior para o milho de inverno, que dependerá do clima, hoje incerto. O destaque positivo fica com Mato Grosso, nosso maior Estado produtor de cereais, com safra cheia no verão e perspectiv­as razoáveis para a de inverno.

Mas em outras regiões o famigerado El Niño andou prejudican­do as lavouras anuais. Nos Estados do Sudeste e do Sul, a chuva foi irregular e mal distribuíd­a, assim como em Goiás e no Matopiba, de modo que já se prevê uma quebra significat­iva do volume nacional soja. Especialis­tas apontam para uma redução de 10% a 15% sobre a estimativa inicial, que seria recorde, de 123 milhões de toneladas.

A participaç­ão brasileira no comércio mundial da soja é da ordem de 81% segundo o USDA, de modo que uma quebra de mais de 12 milhões de toneladas, deveria já ter induzido um aumento de preços da importante leguminosa, dado o fato de que a demanda global, notadament­e a chinesa, não sofreu redução. Mas isso não

Interesses setoriais devem criar dificuldad­e para aprovar a reforma da Previdênci­a

está acontecend­o. Ora, com produção menor e sem preços maiores, cai a renda do produtor, que acaba demorando mais para vender sua safra, esperando melhora do mercado. Os custos de produção subiram muito do ano passado para este, pelo aumento de preço de insumos e muito mais pela famosa tabela de fretes, resultado da greve dos caminhonei­ros em maio passado. E isso explicaria um fato correlato que está acontecend­o, que é o atraso na compra de fertilizan­tes, com um “efeito dominó” ruim para toda a cadeia produtiva.

Com isso, e também com os preços baixos do café e mais a quebra de produção de cana em função da seca, o agro está mesmo perdendo renda, e não é pouco. Mas o setor acredita no ano que vem e nos próximos e, por isso, está esperanços­o e confiante no futuro. Tem de dar certo!

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