O Estado de S. Paulo

Antes do like, o Facebook era ‘só mato’ – e eu estava lá

- Bruno Romani ✽ É REPÓRTER DE TECNOLOGIA

É difícil imaginar que um serviço com 2,32 bilhões de pessoas e infinitas interações já tenha sido lugar calmo, quase parado, na internet. Antes do botão curtir e do feed de notícias, quando o Facebook era só mato, eu estava lá.

Nos anos 2000, morei e fiz faculdade nos EUA. Na primeira metade de 2005, percebi que alguns dos meus amigos desprezava­m o caos adolescent­e do MySpace, principal rede social do país na época. Eles sequer conheciam o Orkut, o serviço criado por um engenheiro turco do Google, abraçado pelos brasileiro­s com tanto carinho. Meus amigos preferiam o Facebook.

Eu tinha de estar na rede social de Mark Zuckerberg se precisasse perguntar a algum colega a data de uma prova da faculdade. A alternativ­a era o e-mail, que não empolgava muito. No início, o Facebook tinha mesmo esse apelo estudantil: para fazer o perfil era obrigatóri­o ter um e-mail universitá­rio, com “.edu” no final. Ao me cadastrar, fui automatica­mente colocado na rede da minha universida­de dentro do serviço.

Não era nada novo para quem já era veterano das comunidade­s do Orkut. O perfil era estático, com descrições. As pessoas trocavam mensagens que lembravam os “recadinhos” (ou melhor, “scraps”) da rede rival. Existiam grupos que lembravam as comunidade­s, mas pouca gente interagia. Era bem entediante.

Depois que me formei, o Facebook perdeu apelo. Inconscien­temente, já sabia que manter contato pela vida toda com colegas de sala não é das práticas mais prazerosas que uma pessoa pode ter. Pouco depois de o Facebook criar o feed de notícias, em 2006, decidi zarpar. Achei muito caótico, com todo aquele conteúdo passando pelo meu perfil. Saí para nunca mais voltar. Perdi alguma coisa?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil