Quando o executivo do alto escalão vira aprendiz
Empresas usam a chamada mentoria reversa para estimular troca de conhecimento e abordar diversidade
Quando pensamos em mentoria, a primeira imagem que vem à cabeça é de alguém mais velho orientando talentos promissores. Afinal, até o dicionário nos leva a esse pensamento com a seguinte definição: “prática de ajudar ou aconselhar uma pessoa menos experiente durante um período de tempo”. A dinâmica, porém, vem se modificando nos últimos anos, com diversas empresas adotando a chamada mentoria reversa.
Com a criação atribuída ao então presidente da General Electric Jack Welch, que em 1999 pediu a uma equipe de executivos do alto escalão para procurar colaboradores mais novos para aprender a usar a internet, a prática tem o preceito do mentor ser menos experiente do que o mentorado. Mesmo pouco conhecida no Brasil, empresas de diversos setores, como IBM, CocaCola, Microsoft, Gigatron, Sanofi e Yara começaram a adotar a mentoria reversa.
Antes, as empresas aplicavam a dinâmica com foco na tecnologia. Mas seus benefícios não se resumem às práticas digitais. Para o gerente regional de atendimento a empresas e instituições de ensino do CIEE em São Paulo, Luiz Douglas de Souza, os encontros ajudam na resolução de paradigmas da empresa, aumentam debates sobre diversidade e, consequentemente, melhoram o ambiente de trabalho. “Acredito que a mentoria reversa é assertiva, pois a troca de informações é muito valiosa”, diz ele.
Em 2012, a IBM Brasil implementou a prática para abordar a temática da diversidade, destinada inicialmente para a comunidade LGBT. Com o sucesso do programa, a líder de diversidade e inclusão da IBM para a América Latina, Adriana da Costa Ferreira, conta que o projeto foi expandido para as frentes de mulheres na tecnologia, afrodescendentes, público PCD (pessoas com deficiência) e chegou a outras sedes da empresa. “Agora, fazemos mentoria reversa em outros países. É uma ferramenta para o engajamento do time”, conta.
No programa, os mentorados são executivos da liderança sênior e os mentores são funcionários que representam os temas,
como Roberto Santejo, da área de Operações para a América Latina e líder do grupo de afinidades de PCD. Segundo ele, todos ganham com a mentoria. “O reflexo é imediato, atingimos a alta liderança e isso tem sido um sucesso, principalmente no ambiente de trabalho”, diz ele.
A farmacêutica Sanofi trabalha com mentoria reversa desde 2017 e já está em sua segunda turma. Com 27 duplas, não há um tópico específico e o programa tem millennials (nascidos a partir de 1985) como mentores de altos executivos. “Queríamos a troca de conhecimento e de valores, experiências, além de aumentar a diversidade na empresa”, conta o diretor de Recursos Humanos da Sanofi, Pedro Pittella.
Apesar de a mentoria reversa ter se voltado mais para a diversidade do que para a tecnologia, a prática ainda tem se mostrado vantajosa para empresas que a utilizam pela sua designação original. É o caso da rede de franquias de criação de softwares para gestão Gigatron Franchising.
Segundo o CEO da empresa, Marcelo Salomão Guimarães, novos franqueados sentiam dificuldade com o marketing digital. A mentoria reversa foi a solução encontrada, com jovens entre 18 e 20 anos capacitando franqueados – que possuem, em média, mais de 40 anos.
“Não basta postar uma foto e escrever uma legenda. Criar um relacionamento com o público exige estratégia e planejamento e nós ensinamos como o franqueado deve lidar com todas essas novas ferramentas”, explica Guimarães.