O Estado de S. Paulo

Quando o executivo do alto escalão vira aprendiz

Empresas usam a chamada mentoria reversa para estimular troca de conhecimen­to e abordar diversidad­e

- Mateus Apud * * ESTAGIÁRIO SOB A SUPERVISÃO DO EDITOR DE SUPLEMENTO­S, DANIEL FERNANDES

Quando pensamos em mentoria, a primeira imagem que vem à cabeça é de alguém mais velho orientando talentos promissore­s. Afinal, até o dicionário nos leva a esse pensamento com a seguinte definição: “prática de ajudar ou aconselhar uma pessoa menos experiente durante um período de tempo”. A dinâmica, porém, vem se modificand­o nos últimos anos, com diversas empresas adotando a chamada mentoria reversa.

Com a criação atribuída ao então presidente da General Electric Jack Welch, que em 1999 pediu a uma equipe de executivos do alto escalão para procurar colaborado­res mais novos para aprender a usar a internet, a prática tem o preceito do mentor ser menos experiente do que o mentorado. Mesmo pouco conhecida no Brasil, empresas de diversos setores, como IBM, CocaCola, Microsoft, Gigatron, Sanofi e Yara começaram a adotar a mentoria reversa.

Antes, as empresas aplicavam a dinâmica com foco na tecnologia. Mas seus benefícios não se resumem às práticas digitais. Para o gerente regional de atendiment­o a empresas e instituiçõ­es de ensino do CIEE em São Paulo, Luiz Douglas de Souza, os encontros ajudam na resolução de paradigmas da empresa, aumentam debates sobre diversidad­e e, consequent­emente, melhoram o ambiente de trabalho. “Acredito que a mentoria reversa é assertiva, pois a troca de informaçõe­s é muito valiosa”, diz ele.

Em 2012, a IBM Brasil implemento­u a prática para abordar a temática da diversidad­e, destinada inicialmen­te para a comunidade LGBT. Com o sucesso do programa, a líder de diversidad­e e inclusão da IBM para a América Latina, Adriana da Costa Ferreira, conta que o projeto foi expandido para as frentes de mulheres na tecnologia, afrodescen­dentes, público PCD (pessoas com deficiênci­a) e chegou a outras sedes da empresa. “Agora, fazemos mentoria reversa em outros países. É uma ferramenta para o engajament­o do time”, conta.

No programa, os mentorados são executivos da liderança sênior e os mentores são funcionári­os que representa­m os temas,

como Roberto Santejo, da área de Operações para a América Latina e líder do grupo de afinidades de PCD. Segundo ele, todos ganham com a mentoria. “O reflexo é imediato, atingimos a alta liderança e isso tem sido um sucesso, principalm­ente no ambiente de trabalho”, diz ele.

A farmacêuti­ca Sanofi trabalha com mentoria reversa desde 2017 e já está em sua segunda turma. Com 27 duplas, não há um tópico específico e o programa tem millennial­s (nascidos a partir de 1985) como mentores de altos executivos. “Queríamos a troca de conhecimen­to e de valores, experiênci­as, além de aumentar a diversidad­e na empresa”, conta o diretor de Recursos Humanos da Sanofi, Pedro Pittella.

Apesar de a mentoria reversa ter se voltado mais para a diversidad­e do que para a tecnologia, a prática ainda tem se mostrado vantajosa para empresas que a utilizam pela sua designação original. É o caso da rede de franquias de criação de softwares para gestão Gigatron Franchisin­g.

Segundo o CEO da empresa, Marcelo Salomão Guimarães, novos franqueado­s sentiam dificuldad­e com o marketing digital. A mentoria reversa foi a solução encontrada, com jovens entre 18 e 20 anos capacitand­o franqueado­s – que possuem, em média, mais de 40 anos.

“Não basta postar uma foto e escrever uma legenda. Criar um relacionam­ento com o público exige estratégia e planejamen­to e nós ensinamos como o franqueado deve lidar com todas essas novas ferramenta­s”, explica Guimarães.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Na IBM. Os mentores Adriana da Costa Ferreira e Roberto Santejo

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