O Estado de S. Paulo

Fachadas verdes ganham novo ‘contorno’ em prédios

Depois dos projetos que forraram empenas cegas pela cidade, empresas apostam nas fachadas com janelas

- Jéssica Díez Corrêa

Em 2015, um chamamento público parisiense desafiou jovens urbanistas a criar projetos inovadores que representa­ssem o futuro da capital francesa. Entre os 372 trabalhos apresentad­os, um ponto em comum: todos com amplas fachadas verdes.

As ideias instigante­s dos profission­ais europeus tiveram efeito no Brasil: a construtor­a Gamaro diz ter se inspirado neles para lançar, agora, o Seed. Trata-se de um edifício sustentáve­l com 328 m2 de fachada com mata atlântica, na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo.

Prédios cobertos com plantas não é novidade na cidade. Em 2013, o Movimento 90°, fundado pelo arquiteto e paisagista Guil Blanche, surgiu com o objetivo de criar jardins verticais em prédios vizinhos ao Minhocão. Concebida na França em 1994, a técnica ocupa as empenas cegas (fachadas sem janelas) com plantas nativas e baixa necessidad­e de poda, com sistema próprio para captação e armazename­nto de água. A iniciativa foi bem sucedida e recebeu o apoio da prefeitura. Hoje, são mais de 4 mil m² dessas fachadas na cidade.

No caso de área verde fora das empenas cegas, que é o caso do Seed, o projeto influencia a vista e o dia a dia do morador.

Segundo Ricardo Cardim, botânico e paisagista responsáve­l pelo projeto, a diversidad­e da flora paulistana contribuiu para que a ideia fosse bem sucedida. Cada um dos 80 apartament­os terá, em média, de 2 a 3 m² de árvores plantadas, inclusive frutíferas – o equivalent­e a sete ou oito árvores, cada uma podendo chegar a 3 metros de altura.

“A gente está falando de um envelopame­nto verde. São plantas que vivem 70 anos, têm densidade vegetal. Isso cria uma condição de ecossistem­a de mata atlântica em uma fachada de prédio. É um impacto enorme para a região”, diz Cardim.

Segundo o botânico, a quantidade de matéria orgânica em um projeto como o Seed traz diversos benefícios, como minimizaçã­o da poluição sonora, ajuste da temperatur­a, aumento na umidade do ar, controle de pragas urbanas e redução de poeira e vento. Além disso, os chamados “pocket forests” (florestas de bolso) da Gamaro vão servir de abrigo para a fauna.

Todo esse verde exige cuidados. Além de o prédio contar com um sistema interno de irrigação das plantas, a poda e a manutenção das fachadas estará a cargo da Gamaro por cinco anos. Depois disso, deverá ser definido em convenção se a manutenção ficará a cargo do morador ou do condomínio.

Vinicius Amato, diretor de incorporaç­ão da construtor­a, afirma que esses jardins encarecera­m em 10% o valor das unidades, que têm 81 ou 84 m² e foram vendidas a partir de R$ 765 mil. Para ele, o investimen­to vale a pena. “É mais do que sustentabi­lidade, é conexão com a natureza. Se você tem uma cidade mais verde, tem uma cidade com melhor qualidade de vida.”

A Idea!Zarvos é outra incorporad­ora que aposta no verde. O executivo Otavio Zarvos explica que o mote da empresa é

promover uma arquitetur­a autoral de alto nível, o que, frequentem­ente, pode incluir a conexão do urbano com a natureza. “Assim a gente consegue uma integração do prédio com o entorno dele, integrando-o melhor à paisagem. Esteticame­nte, isso atrai”, afirma ele.

Zarvos, no entanto, pondera que é necessário avaliar previament­e se uma fachada de plantas tem funcionali­dade no projeto. “Tem de se tomar cuidado com os custos de manutenção. Quando a gente põe uma parede verde em um empreendim­ento, ela tem que ter motivo para estar ali.” Entre os propósitos válidos, ele cita a proteção térmica, especialme­nte em edifícios que pegam muito sol.

Ricardo Pajero, gerente comercial da Mac Construtor­a, concorda: “É preciso avaliar bem o projeto, porque encarece. Você precisa de uma irrigação interna constante e tem toda uma tecnologia envolvida nisso”. Em 2021, a Mac entrega o Is Moema, que terá uma parede verde. As áreas comuns do edifício terão divisórias de vidro, permitindo a contemplaç­ão da estrutura natural.

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JIVAGO BRATKER
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MELISSA BINDER Plantas. Prédio da Zarvos em Pinheiros (no alto) e detalhe do Seed, da Gamaro

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