COCA PROSPERA COM TRABALHO DE REFUGIADOS
Venezuelanos formam exército de mão de obra barata para colher a folha para cartéis
Ao arrancar os primeiros arbustos, as mãos latejam pelo inchaço. Mas o pior é quando as bolhas estouram e a mão se enche de sangue. Então, os refugiados venezuelanos xingam o governo, pois ninguém nunca imaginou que fugiria da crise para colher folha de coca na Colômbia.
Centenas de venezuelanos sobrevivem com os cultivos de coca e sob estritas normas ditadas nos territórios cocaleiros na fronteira. Eles deixaram de ser operários, taxistas, pescadores ou vendedores na Venezuela para colher a matéria prima da cocaína, uma atividade ilegal da qual eles somente tinham ouvido falar.
“O problema começa com as mãos”, diz Eduar. Há dois anos, o jovem de 23 anos, pai de dois bebês, migrou da cidade venezuelana de Guárico, onde trabalhava com mototáxi. Do centro da Venezuela, viajou por terra até a região limítrofe de Catatumbo, onde inicialmente ganhou a vida como pedreiro. Um trabalho que considerou menos desgastante e doloroso que as dez horas que passa todos os dias nas plantações de coca, sempre sob sol ou chuva.
“O problema são as mãos”, repete Eduar, tirando as faixas de pano vermelho, para exibir mãos e dedos cheios de calos. Eduar, que não quis revelar seu verdadeiro nome para evitar problemas quando voltar para a Venezuela, tira os sapatos e continua trabalhando com meias rasgadas. Transpira muito e usa um chapéu de palha que lhe dá uma aparência de espantalho.
Com a colheita, ganha por semana até US$ 144, três vezes mais do que recebia na construção. Como a maioria dos imigrantes, fica com apenas uma parte e envia o resto para a família na Venezuela. Por décadas, apenas os colombianos migravam para Catatumbo. Mas, desde 2016, estão chegando refugiados venezuelanos. Apesar de ser uma zona desmilitarizada, grupos armados exercem influência e disputam o controle dos cultivos de coca. Até 2017, Catatumbo concentrava 16,5% do total de cultivos ilegais na Colômbia, maior produtor de cocaína do mundo.
Apesar de alguns dos venezuelanos em Catatumbo dizerem que haviam apoiado o chavismo, agora todos querem que Nicolás Maduro deixe o poder. “Não precisávamos sair de nosso país, do lado de nossa família, se não fosse por causa deles, que nos levaram à bancarrota. Estamos desesperados para ouvir algo, que o país já está se recuperando ou que houve um golpe de Estado”, diz Endy Fernández, de 36 anos, que vendia leite em Zulia antes de se submeter à colheita de coca.