O que está acontecendo?
Acada semana, o mundo parece mais difícil. Agora, muitos países têm e outros querem, armas nucleares. Felizmente, ainda há restrições, embora em declínio, ao seu uso. A disputa em curso entre a Índia e o Paquistão sobre a Caxemira se intensificou. Os dois países buscam apoio externo para suas posições. A possibilidade de crise desta vez parece ser mais grave, pois a Índia justifica sua decisão de entrar permanentemente.
O Irã está expandindo sua capacidade nuclear ainda limitada, para além dos limites do acordo anterior ao de 2015, desde a saída dos Estados Unidos. Houve interferência na navegação pelo Estreito de Ormuz, bem como na intensificação da luta
no Iêmen. A Pérsia e a Babilônia parecem estar de volta. Israel, os EUA e os Emirados Árabes Unidos estão discutindo os esforços para contestar o Irã.
A Coreia do Norte, mais uma vez ocupada com o lançamento de seus mísseis de curto alcance, reagiu fortemente contra a afirmação da Coreia do Sul de uma futura unificação, enquanto Kim e o Norte foram incapazes de marcar outra reunião com Trump.
A China está envolvida em uma séria disputa comercial com os EUA, que se tornou mais complicada como resultado de tumultos regulares em Hong Kong nos últimos dois meses. O presidente Xi vê a revolta como uma possível ameaça ao seu governo autocrático.
A Rússia também parece ter seus problemas. Putin enfrenta sinais de crescente oposição doméstica, enquanto busca maior capacidade nuclear. Depois de tanto tempo no poder, ele fez um esforço bem-sucedido, com a ajuda de Trump, para ampliar seu poder. Mas as tentativas de alcançar maior capacidade nuclear e ações de contrainteligência levaram a dificuldades.
Na América Latina, a Venezuela e agora a Argentina, depois da substancial vitória de Fernandez nas eleições primárias, trazem desorientação. O êxodo venezuelano se tornou substancial, ao mesmo tempo em que Maduro parece estar se fortalecendo, já que a violência contra a oposição militar afasta a ameaça de um golpe. Há um efeito econômico direto sobre o futuro do Mercosul e um acordo anterior com a UE sobre um acordo comercial.
Boris Johnson procura apegar-se à sua posição positiva em relação ao Brexit quando o Parlamento retornar no próximo mês. A Grã-Bretanha parece não saber que rumo tomar. As projeções de saída total até o fim de outubro estão debilitando a atividade econômica e levando à saída das finanças internacionais de seu centro de Londres.
E ainda há a economia mundial. As estimativas para 2019 e 2020 parecem progressivamente mais negativas. A inversão da curva de juros nos EUA é um sinal tradicional de desaceleração futura, e a Europa, ainda tentando lidar com questões de imigração e uma direita fortalecida, mostra sinais – especialmente a Alemanha – de uma futura desaceleração.
Tanto o FMI quanto o Banco Mundial reduziram suas estimativas anteriores para o crescimento global. O Brasil corre o risco iminente de um cálculo do IBGE indicando recessão no primeiro semestre do ano. As estimativas de crescimento provável para este ano já caíram para 0,8%, em antecipação a um crescimento maior no segundo semestre do ano.
As previsões de bancos e outros para 2020 falam em crescimento de apenas cerca de 2%. Mas isso pressupõe uma demanda externa maior para compensar a grande diminuição de demanda da Argentina neste ano. Qualquer recessão pode afetar negativamente o Brasil, apesar da redução das taxas de juros internacionais e domésticas. Na última série de anos, a esperança e a fé ultrapassaram a realidade.
Dois pontos se destacam. O primeiro é a incapacidade de Bolsonaro de compreender plenamente o que está acontecendo, nacional e internacionalmente. O governo é incapaz de transmitir uma estratégia coerente para a resposta interna a uma economia em desaceleração, que agora se agrava. Internacionalmente, há uma incapacidade similar de enfrentar a situação. Existem duas visões, uma restritiva e confiante; a outra, analítica e flexível. Nunca se tem certeza do resultado.
A segunda é a limitada capacidade dos Estados Unidos de se focar no momento. Liderança, em vez de mentiras, é especialmente importante em meio à situação atual. Os EUA reduziram a capacidade de agir de forma responsável, seja internacional ou domesticamente. O país tornou-se tão dividido que as tragédias do racismo, da incompetência e da incapacidade de governar fazem agora parte da vida cotidiana.
ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO, PROFESSOR EMÉRITO NAS UNIVERSIDADES DE COLUMBIA E DA CALIFÓRNIA EM BERKELEY. ESCREVE MENSALMENTE.