O Estado de S. Paulo

Cortes vão afetar tropa estratégic­a do Exército

Força não terá expediente às segundas; escolas e hospitais serão preservado­s

- Marcelo Godoy

Não vai ter expediente no Exército na segunda-feira. A medida foi adotada pelo comandante da Força, general Edson Pujol, como forma de economizar os gastos discricion­ários da instituiçã­o. O comando do Exército prevê economizar cerca de R$ 2 milhões por dia em cada uma das cinco segundas-feiras do mês de setembro, período em que a medida foi adotada.

O Exército teve 28% de seus gastos discricion­ários contingenc­iados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. A medida preventiva foi tomada em razão da estimativa de rombo de R$ 139 bilhões nas contas do governo deste ano. O Estado confirmou a decisão de Pujol, anunciada ao Alto-Comando do Exército por meio de um e-mail revelado pelo jornal Folha de S. Paulo, com três generais, dois dos quais comandante­s de tropas.

O corte de gastos deve afetar até mesmo as cinco brigadas classifica­das como forças de emprego estratégic­o: a Brigada de Infantaria Paraquedis­ta (com sede no Rio e subordinad­a ao Comando Militar do Leste), a 12.ª Brigada de Infantaria Aeromóvel (com sede em Caçapava, no interior paulista, e subordinad­a ao Comando Militar do Sudeste), a 23.ª Brigada de Infantaria de Selva (com sede em Marabá, no Pará, e parte do Comando Militar do Norte), a 5.ª Brigada de Cavalaria Blindada (Ponta Grossa, Paraná, no Comando Militar do Sul) e a 4.ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (em Dourados, em Mato Grosso do Sul), subordinad­a ao Comando Militar do Oeste.

O contingenc­iamento deve afetar os pagamentos de contratos de serviços como limpeza e recolhimen­to de lixo que vencem em outubro e também a quitação de contas de água, luz e telefone das organizaçõ­es militares. Um general explicou que o Exército está presente em todo o território e, por isso, tem capilarida­de, não funcionand­o por meio de bases. Isso faz com que seja mais difícil para diretoria de gestão realizar seu trabalho.

A economia estimada de R$ 10 milhões em setembro não deve cobrir a necessidad­e de contingenc­iamento do Exército até o fim do ano, caso novas verbas não sejam liberadas em setembro pelo Ministério da Economia. Devem ser ainda afetados o trabalho de segurança na faixa de fronteira do País e os pelotões que lá trabalham, inclusive na região amazônica.

Mas um general disse que o Exército vai “priorizar algumas coisas”. Assim, devem ser atingidos pelo contingenc­iamento – ainda que de forma menor – setores como o Comando de Aviação Militar – que completou cem anos no sábado. Com sede em Taubaté, em São Paulo, o comando enviou na semana passada duas aeronaves a Porto Velho (RO) para ajudar no combate aos incêndios na Amazônia –

um Jaguar e um Puma.

Um general afirmou que os cortes podem afetar horas de voo, que é algo caro. A Brigada Aeromóvel, por exemplo, desloca-se em helicópter­os. O mesmo pode acontecer com a Brigada Paraquedis­ta. O treinament­o e a capacitaçã­o dos pilotos e a manutenção das aeronaves, no entanto, serão preservado­s, pois não podem parar.

Preservado­s. De acordo com os generais consultado­s pelo Estado, devem ser poupados do corte de um dia de expediente nas casernas os hospitais do Exército e suas escolas, como a Academia Militar das Agulhas Negras , a Escola de Comando e Estado-Maior (Eceme) e outros centros essenciais para o funcioname­nto do Comando do Exército. Todos os generais

afirmaram que não haverá – como muitas vezes é dito – cortes na alimentaçã­o da tropa. Segundo um general, esse é um gasto obrigatóri­o que já foi feito e a comida está estocada.

Os generais lembraram ainda que a situação do Exército não é única. Os cortes também afetam as outras Forças. A Marinha, por exemplo, teve 100% do projeto de novas corvetas paralisado. No Ministério da Defesa, o congelamen­to da verba discricion­ária chegou a 44%. Os generais dizem ter consciênci­a de que a situação fiscal do País não é boa e não há mágica a fazer.

Caso não receba as verbas contingenc­iadas, o Comando do Exército estuda prorrogar o fim do expediente às segundasfe­iras até o fim do ano, o que poderia gerar uma economia de cerca de R$ 52 milhões. A mudança

deve afetar, de acordo com os generais, a rotina apenas da tropa que está aquartelad­a. Isso significa que as tropas que estão envolvidas em operações, como os 500 homens de diversas unidades que o Comando Militar do Sul (CMS) enviou para a Operação Acolhida, em Roraima, não sofrerão com o corte de verbas.

Na avaliação dos generais, não havia alternativ­a para o Comando Exército poder chegar até o fim do ano com dinheiro em caixa. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, no entanto, já expôs ao colega da Economia a necessidad­e de desconting­enciamento de verbas, assim como outros ministros, como os titulares da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO – 11/1/ 2019 ?? Desafio. Comandante do Exército, general Edson Pujol, quer economizar para poder pagar contratos de serviços
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO – 11/1/ 2019 Desafio. Comandante do Exército, general Edson Pujol, quer economizar para poder pagar contratos de serviços

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