O Estado de S. Paulo

Motoristas paralisam terminais de ônibus e prometem greve geral hoje

Rodízio será suspenso e metrô deverá ter operação reforçada; Justiça do Trabalho determina 70% da frota em circulação nos horários de pico

- Gilberto Amendola Paula Felix Thiago Lasco

Depois de fechar 21 terminais de ônibus e deixar o trânsito acima da média na capital paulista, os motoristas de ônibus coletivos prometem greve geral hoje. A Prefeitura anunciou a suspensão do rodízio e Metrô e CPTM terão operação reforçada desde a madrugada. A Justiça do Trabalho determinou que pelo menos 70% da frota circule em horário de pico.

O Sindicato dos Motoristas e Trabalhado­res em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotori­stas) aprovou paralisaçã­o geral do serviço de ônibus na capital, a partir da zero hora de hoje. A decisão foi tomada após um dia de mobilizaçõ­es, que chegou a fechar 21 terminais e deixou o trânsito acima da média na maior parte da cidade. A Prefeitura decidiu suspender o rodízio de veículos nesta sexta; o metrô e a CPTM terão operação reforçada. A Justiça determinou circulação de até 70% no horário de pico.

Enquanto os ônibus não retomavam totalmente a circulação, à tarde, os usuários improvisar­am. À espera da linha Cohab Educandári­o, cinco pessoas que não se conheciam até então tiveram tempo de fazer amizade e estavam articuland­o um plano para dividir um Uber, já que iriam na mesma direção.

Parte desse grupo recém-formado, a copeira Edineide de Jesus, de 33 anos, havia saído do trabalho na Vila Olímpia de trem até o Terminal Pinheiros e precisava continuar viagem até sua casa no Jardim João XXIII. “Amanhã (hoje) nem saio de casa, a menos que a empresa pague o Uber. Não vou ficar no prejuízo. Já coloquei isso para minha supervisor­a no nosso grupo de WhatsApp.”

À noite, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) ainda registrava lentidão. Às 19h, 130 km de vias monitorada­s tinham congestion­amento, ante uma média de 105 km. Desde as 17h, a lentidão na capital ficou acima da média.

Na assembleia do sindicato, foi informado que o serviço só foi retomado nesta quinta “para levar o trabalhado­r para casa”. O presidente interino do sindicato, Valmir Santana da Paz, disse ter saído “entristeci­do” de uma reunião com a Secretaria dos Transporte­s. “Nenhuma questão foi resolvida. Não vamos deixar trabalhado­res perderem

seus empregos. Não vamos rodar amanhã (sexta).”

O objetivo da manifestaç­ão iniciada ontem é protestar contra o que os condutores chamam de “desmonte” do setor, com uma suposta redução de frota, além de cobrar o pagamento relativo à participaç­ão nos lucros e resultados (PLR) por parte das empresas. De acordo

com a entidade sindical, havia transferên­cia desse dinheiro prevista para esta quinta, o que não teria ocorrido.

O presidente licenciado do sindicato e deputado federal Valdevan Noventa (PSC) disse que a decisão de paralisaçã­o é o “começo de uma batalha”. E a paralisaçã­o será por tempo indetermin­ado até que a Prefeitura

negocie com a categoria.

A Prefeitura, por meio da SPTrans, informou que conseguiu decisão favorável da Justiça do Trabalho. “Consideran­do que se trata de atividade essencial houve a determinaç­ão para que se mantenha o funcioname­nto de, no mínimo, 70% da circulação da frota nos horários de pico (6 às 9 e 16 às 19 horas) e de 50% nos demais horários, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia, no caso de descumprim­ento.” Também fica liberada a Zona Azul e suspensa a restrição a fretados. Já a Companhia do Metropolit­ano de São Paulo informou que, caso a greve se concretize, será antecipado o uso da frota total de trens.

Contexto. A paralisaçã­o dos motoristas ocorre no momento em que a Prefeitura atua para acelerar a licitação do novo sistema de ônibus – processo que está na Justiça desde 2013. Em agosto, o Tribunal de Justiça considerou inconstitu­cional a lei que prevê contratos de 20 anos com as empresas de ônibus. Com a decisão, voltou a vigorar uma lei de 2001 que prevê até 15 anos. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiro­s de São Paulo (SPUrbanuss) cobra uma ação rápida da Prefeitura para reverter a decisão do TJ – tendo como argumento o fato de estar operando com contratos emergencia­is e, portanto, com inseguranç­as jurídicas. As empresas de ônibus também estariam se sentindo ameaçadas pela participaç­ão dos aplicativo­s de carro na cidade – combinada com a redução de rotas. A previsão de uma queda na arrecadaçã­o é parte do discurso dos empresário­s.

Sobre a PLR, que deveria ser paga até esta quinta, o sindicato das empresas diz que está tentando negociar o parcelamen­to desse pagamento com o sindicato dos motoristas, mas que a categoria exige “conversar com o prefeito Bruno Covas”.

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TABA BENEDICTO / ESTADAO 23 de Maio. Ônibus pararam ontem, causando lentidão nas principais vias

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