O Estado de S. Paulo

Planalto desiste de mexer na lei do teto

Em conversa com o presidente, o ministro Paulo Guedes acertou que negociará com o Congresso uma forma de destravar mecanismos previstos na regra do teto de gastos, como a suspensão de reajuste a servidores, para reduzir despesas obrigatóri­as

- Adriana Fernandes Mateus Vargas / BRASÍLIA Idiana Tomazelli ENVIADA ESPECIAL / FORTALEZA

Em conversa com o ministro Paulo Guedes (Economia), Jair Bolsonaro foi convencido a desistir do afrouxamen­to da lei do teto de gastos. O dispositiv­o proíbe que as despesas cresçam acima da inflação. Guedes disse que vai negociar com o Congresso uma regra para que os gatilhos que permitem ao governo reduzir despesas obrigatóri­as sejam acionados.

Um dia após ter defendido o afrouxamen­to na emenda do teto de gastos – instrument­o de política orçamentár­ia que proíbe que as despesas cresçam acima da inflação de um ano para o outro –, o presidente Jair Bolsonaro foi convencido pela equipe econômica a desistir da ideia. “Seria uma rachadura em um transatlân­tico”, disse ontem o presidente. Na quarta-feira, o portavoz da Presidênci­a havia afirmado que Bolsonaro defendia o abrandamen­to do teto.

Em conversa com o presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acertou que sua equipe vai negociar com o Congresso uma “calibragem” apenas nas normas para o acionament­o dos chamados “gatilhos”. Previstos na regra do teto, eles são mecanismos que permitem ao governo reduzir despesas obrigatóri­as, por meio de medidas como a suspensão de aumentos salariais dos servidores, da concessão de benefícios e de reajustes de despesas acima da inflação, inclusive do salário mínimo.

Hoje, do jeito que a emenda do teto foi aprovada, o acionament­o dos gatilhos não é tecnicamen­te viável. Isso porque há uma contradiçã­o nas regras vigentes: pela norma, um gatilho só pode ser acionado após estouro do teto. Ao mesmo tempo, a lei define que o presidente pode ser responsabi­lizado criminalme­nte caso o teto de gastos seja descumprid­o. Diante disso, a equipe de Guedes tentará garantir o acionament­o antecipado das medidas de ajuste, sem que seja preciso estourar o limite de gastos.

Além de tentar destravar o uso dos gatilhos, a equipe econômica trabalha em outras medidas para reduzir, em pelo menos R$ 10 bilhões, as despesas obrigatóri­as, como pessoal e Previdênci­a, e abrir espaço no teto de gastos. Essa abertura permite aumentar a margem para os chamados gastos discricion­ários (não obrigatóri­os, como despesas com o custeio da máquina e investimen­tos).

Em Fortaleza, o ministro Paulo Guedes garantiu que o governo e o Congresso estão prontos para “resolver o problema” fiscal do País. Para o ministro, os congressis­tas “entenderam a armadilha em que caíram” e estão com um diálogo maduro sobre a necessidad­e de reformas fiscais no País. “A armadilha do gasto obrigatóri­o encurralou a classe política inteira”, disse.

Ele criticou os altos salários de servidores e citou o gasto com pessoal como um dos que pressionam as despesas. “O teto de gastos é um aviso dizendo o seguinte: não pode furar o teto mais. Então nós preferimos propor no pacto federativo o controle das despesas em vez de simplesmen­te furar o teto. Porque furar o teto é o que fazemos há 40 anos, e não deu certo.”

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, confirmou ao Estado que a área técnica do governo está preparando medidas para reduzir as despesas obrigatóri­as – que respondem por 96% do Orçamento – e garantir o acionament­o antecipado das medidas de ajuste. “A causa do problema é o cresciment­o das despesas obrigatóri­as, que avançaram R$ 200 bilhões em três anos”. Segundo ele, nesse ritmo, não vai haver “espaço para mais nada”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -11/3/2019 Fiscal. Guedes garante que Congresso está pronto a ajudar

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